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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Faça futebol, não faça a guerra

Final da Champions League não pode mais acontecer em São Petersburgo

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O técnico escocês Bill Shankly foi o arquiteto do grande Liverpool dos anos 1960/1970 e autor de uma frase tão romântica quanto discutível: "Futebol não é questão de vida ou morte. É muito mais do que isso."

Também nascido na Escócia, o jornalista e escritor Andy Dougan foi mais longe. No livro "Futebol & Guerra" (Zahar, 2004), Dougan separa a lenda e a realidade para contar o embate entre o FC Start e o Flakelf. O primeiro era composto por prisioneiros, entre os quais o que havia sobrado do Dínamo de Kiev, de antes da Segunda Guerra Mundial. O Flakelf era o time da Luftwaffe, a força aérea de Hitler.

A lenda era de que todos os jogadores teriam sido assassinados depois de uma goleada por 5 a 3 imposta aos alemães. O fato é que oito dos vencedores foram presos pelos nazistas durante a guerra. Cinco morreram antes do término do conflito –não logo após a partida.

Suprema contradição, o estádio do Zenit, em São Petersburgo, tem uma estátua de um homem pisando uma bola com um pé e uma águia, símbolo nazista, com o outro. A obra é, supostamente, homenagem à vitória dos antigos jogadores do Dínamo de Kiev sobre a Luftwaffe.

Monumento em Kiev homenageia os jogadores ucranianos que formavam o FC Start
Monumento em Kiev homenageia os jogadores ucranianos que formavam o FC Start - Joseph Sywenkyj/The New York Times

A espetacular cidade de São Petersburgo tinha, até a invasão de Putin à Ucrânia, a certeza de sediar a final da Champions League, em 28 de maio. Não dá mais.

Pelo terceiro ano seguido, a decisão do maior torneio de clubes do planeta terá de mudar de palco. Isso se a guerra não avançar a ponto de ameaçar todo o torneio e até a Copa do Mundo, em novembro.

Parece precoce pensar nisso e, ao mesmo tempo, tardio notar que o Shakhtar Donetsk não joga na Dombass Arena desde 2014, na região auto proclamada independente com o apoio da Rússia. Depois da temporada 2013/14, o Shakhtar disputou suas partidas de Champions League em Liyv ou Kiev, a mais de 600 quilômetros de seu estádio.

Óbvio que os analistas internacionais compreendem muito melhor a origem do conflito e entendem a gravidade desde o início do processo separatista.

Estudar russo como preparação para a Copa do Mundo, há cinco anos, produziu descobertas, como a de que parte do povo de Moscou apoia Putin, por julgar que a Ucrânia sempre pertenceu à Rússia.

Meia verdade.

Mas minha professora do idioma nasceu em São Petersburgo, quando se chamava Leningrado, e jamais reconheceu os ucranianos como um povo independente.

Entre seus argumentos, o de que Kiev foi capital do principado Rus, que deu origem ao estado russo.

A província Cisplatina pertenceu ao Brasil e, nem por isso, os uruguaios sentem-se brasileiros.

Alguns dos maiores jogadores da seleção soviética eram ucranianos, como Mikhailichenko e Dobrovolski, campeões olímpicos em 1988, Blokhin e Belanov, eleitos melhores jogadores da Europa em 1975 e 1986, respectivamente. Tempos em que as camisas vermelhas traziam a insígnia CCCP.

A brincadeira, no Brasil era que as letras indicavam as palavras "Cuidado Camarada Com Pelé", em vez de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (Союз Советских Социалистических Республик).

Pelé e Garrincha protagonizaram os três minutos mais incríveis da história do futebol, descritos assim pelo jornalista francês Gabriel Hanot, no primeiro jogo dos dois gênios em Copas do Mundo, Brasil 2 a 0 nos soviéticos.

Que bom seria se Putin tivesse apenas a sabedoria de fazer o mundo comemorar a proximidade do fim da pandemia, com uma final de Champions na linda São Petersburgo.

Em vez disso, traz mais uma ameaça à humanidade, dois anos depois do coronavírus.

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