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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Jogos entre europeus e sul-americanos ficaram desiguais desde a Lei Bosman

Duas décadas e meia depois, até hoje muita gente não entende por que razão a América do Sul ficou para trás

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Jean Marc Bosman está para o Mundial de Clubes assim como a máquina a vapor está para a Revolução Industrial.

Foi a vitória do medíocre meio-campista belga na Justiça, questionando por que os jogadores enfrentavam limites de nacionalidade para trabalhar em países europeus enquanto arquitetos, engenheiros, médicos e advogados não tinham mais fronteiras, o que acabou com a restrição de estrangeiros e transformou o futebol.

O tribunal deu ganho de causa a Bosman em 15 de dezembro de 1995, duas semanas depois de o Ajax vencer o Grêmio nos pênaltis, na decisão da Copa Intercontinental. Naquele dia, a América do Sul tinha 20 títulos mundiais e a Europa possuía apenas 14.

Jogadores do Barcelona comemoram gol sobre o Santos na final do Mundial de 2011
Jogadores do Barcelona comemoram gol sobre o Santos na final do Mundial de 2011 - Kim Kyung-Hoon - 18.dez.2011/Reuters

Nas duas décadas e meia seguintes, houve 22 taças europeias, entre a Copa Toyota e o Mundial da Fifa. Aos sul-americanos, só seis.

O Chelsea é favorito contra o Palmeiras, como era contra o Corinthians, há nove anos, como o Liverpool foi contra o Flamengo, mesmo vencendo na prorrogação. Os jogos de clubes ficaram desiguais. Muito mais do que entre seleções.

Aprendi a falar italiano lendo e conversando com um jornalista chamado Marco Zunino. Ele telefonava de Milão e passava horas, no início de 1996, perguntando sobre jogadores brasileiros. "Mancino? É canhoto?" Eu lia e até escrevi artigos para a revista Guerin Sportivo.

Dois meses depois da sentença Bosman, o semanário de Bolonha previa que o futebol ia mudar. Não é fácil compreender a revolução no início, a não ser que exista ruptura.

No começo da década de 1990, já havia supremacia europeia, mas os clubes só podiam ter três estrangeiros. O São Paulo massacrou o Barcelona nos 2 a 1 na final de 1992. O Barça era uma seleção espanhola, completada pelo holandês Ronald Koeman, o dinamarquês Michael Laudrup e o búlgaro Stoitchkov.

No ano seguinte, sofreu mais e venceu o Milan por 3 a 2, gol de Muller aos 41 do segundo tempo. Em 1995, o Grêmio fez o extraordinário Ajax suar para ganhar nos pênaltis. Depois, em 25 anos, só seis heroicas equipes sul-americanas – Boca Juniors (2000 e 2003), Corinthians (2000 e 2012), São Paulo (2005) e Internacional (2006).

O Palmeiras pode vencer o Chelsea, mas não é a lógica. Será um jogo de estratégia e diferente da semifinal contra o Al Ahly. Com os egípcios, Abel Ferreira tinha o desafio de abrir espaços numa defesa fechada. Mostrou versatilidade tática. Circulou a bola em 62% das ações do primeiro tempo, com rapidez na troca de passes, e fez nove de seus dez desarmes no ataque.

Roubar a bola mais perto da área aumenta a chance de fazer gol, como no passe de Dudu para Raphael Veiga, depois do desarme de Zé Rafael.

A final contra o Chelsea terá um retrato mais parecido com o que aconteceu em Montevidéu, contra o Flamengo. O Palmeiras recuará pelos lados, com Marcos Rocha e Scarpa, fechará uma linha de cinco defensores e quatro meio-campistas. Apostará na certeza dos passes e rapidez dos contra-ataques.

O Chelsea foi o primeiro time do mundo a jogar com onze estrangeiros. Aconteceu em dezembro de 1999, um mês depois de o Palmeiras perder a Copa Intercontinental para o Manchester United. O futebol estava mudando. Até hoje, duas décadas e meia depois, muita gente não entende por que razão a América do Sul ficou para trás.

A Revolução Industrial começou na Inglaterra, a digital nos Estados Unidos e a do futebol na Europa ocidental. O único antídoto é a reforma cultural nos times do Brasil.

A vitória do Palmeiras é possível. Não vai ser fácil.

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