Sylvinho estava no paredão e ninguém vai defender o trabalho com 48% de aproveitamento e menos de um gol marcado por partida, em média – foram 42 em 43 jogos. Por outro lado, é lamentável perceber como o país vibra com a desgraça alheia.
O anúncio da demissão provocou buzinaço em Itaquera e festa nos vagões do metrô.
Há alienígenas sombrios no Parque São Jorge, onde o ambiente político nunca avalizou a decisão de Duilio Monteiro Alves e Roberto de Andrade de contratar e manter Sylvinho. Em oposição à ideia de contratá-lo, em maio, houve um convite para Diego Aguirre. Recusado.
Depois, longa negociação com Renato Gaúcho. Também não quis. Sem alternativa, os conselheiros aceitaram Sylvinho.
Talvez a única pressão semelhante no Corinthians tenha havido sobre José Teixeira, preparador físico transformado em técnico campeão do primeiro turno paulista de 1978 e, mais tarde, defenestrado, com direito a capa da revista Placar, com um dedo indicador apontando o caminho da rua e o título: "Fora, Teixeira!"
Do jornalismo panfletário ao corporativismo, Sylvinho também foi vítima de críticas em função de ter respondido a um colega afirmando que sua análise era pobre. À parte poder ser mais delicado na resposta, tem tanto direito de julgar o analista raso quanto o comentarista tem de dizer que seu jogo é um vazio de ideias.
Diga-se, de tanto repetir essa expressão, parecem faltar ideias também a nós, cronistas.
Os jogadores, líderes do grupo como Willian e Renato Augusto, acreditavam na qualidade do trabalho de Sylvinho. Leite derramado.
A pergunta não é se Sylvinho é educado, engomado ou grosseiro. A torcida não o queria mais como técnico, a ponto de gritar "se o Sylvinho não cair, o pau vai quebrar." A torcida o demitiu. Duilio Monteiro Alves lutou, até a última derrota, para mantê-lo.
Não conseguiu.
O Corinthians admite que houve conversa com Jorge Jesus em janeiro. Não existiu proposta, nem contrato, nem falaram sobre o projeto para o clube. O técnico português mostrou apenas disposição para conversar. No Parque São Jorge, a informação é de que Jesus procurou o Corinthians, não o inverso.
Hoje, parece obrigatório para o Corinthians perguntar se o português quer voltar ao Brasil. A resposta provável será: "Não, obrigado."
Daí se cairá na roda-viva de sempre. O Corinthians foi, por dez anos, o clube com menos mudanças de treinador. Mas pouca gente se sustenta. Mano Menezes, Tite e Fábio Carille foram os únicos a emplacar um ano completo no Parque São Jorge, desde a queda para a Série B.
Isso pode ter a ver com forças políticas. Os tentáculos se espalham pelas alamedas e chegam às arquibancadas e redes sociais. Assim, criou-se uma rejeição difícil de explicar sobre Sylvinho. O técnico foi cancelado, antes de ser demitido.
No mesmo dia em que a CBF anulou a proibição da segunda demissão no Brasileiro. A regra, mais driblada do que os marcadores de Garrincha, resultou em 16% menos trocas de treinadores. Foram 28 mudanças em 2021. Sabe quantas houve na Inglaterra na atual temporada? Oito.
Dá para entender por que o jogo é mais coletivo na Europa do que no Brasil?
Como diz Jesualdo Ferreira, demitido pelo Santos depois de apenas quinze jogos, as estruturas do futebol brasileiro estão acomodadas. Quando se percebe que o técnico vai cair, o jogador se acostuma com a ideia, a imprensa se alimenta e o dirigente cogita.
Os times vivem terminando e começando novas experiências. Correndo atrás do rabo.
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