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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Premier League é o campeonato mais apaixonante e o paraíso do picareta internacional

Torneio repete o que se convencionou chamar de pragmatismo britânico: se você tem dinheiro, pode vir

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Roman Abramovich comprou o Chelsea por 170 milhões de euros, em 2003, e colocou o clube à venda, nesta semana, por 4 bilhões de euros –R$ 20 bilhões. Para quem julga que Botafogo e Cruzeiro foram vendidos por preço muito baixo, pense que o oligarca russo pagou menos por um time de futebol da Premier League do que o Paris Saint-Germain desembolsou por Neymar.

Ter um oligarca no comando de uma instituição tão poderosa não é necessariamente bom. O diário El País mostrou na semana passada que há dossiê no Parlamento, em Londres, cujo título tem apenas uma palavra: "Rússia".

A Premier League repete o que se convencionou chamar de pragmatismo britânico. Em outras palavras, se você tem dinheiro, pode vir.

Não deveria ser assim.

Na era Abramovich, o Chelsea conquistou o recorde de 21 troféus. Somando as Supercopas, tem uma taça a mais do que o Manchester United no mesmo período.

Roman Abramovich pôs o Chelsea à venda por cerca de R$ 20 bilhões - John Sibley - 1º.out.16/Reuters

A Premier League também tem amigos de Vladimir Putin no Everton, controlado pelo iraniano Farhad Moshiri, sócio do oligarca Alisher Usmanov na companhia russa USM. O Bournemouth, da segunda divisão e com cinco temporadas consecutivas na primeira, é controlado pelo empresário Maxim Demin.

Não se trata de uma caça às bruxas, mas de uma reflexão sobre como a Premier League se tornou o melhor campeonato nacional do futebol mundial.

A Fifa é justamente criticada por decisões contraditórias, quando se compara, por exemplo, a suspensão da Rússia à complacência com Pinochet.

O mundo está diferente, ou deveria estar, a ponto de não existir mais a ameaça de uma guerra nuclear. Banir o Chile em 1973 significaria também expulsar o Brasil de Médici, a Argentina de Videla, a União Soviética de Brejnev.

A Federação Internacional de Vôlei demorou um dia a mais do que a Fifa para anunciar que o Mundial deste ano não acontecerá na Rússia. Se a Fifa expulsou o país de Putin no quinto dia de guerra, a FIVB só decidiu mudar a sede no sexto.

A repercussão do futebol é inigualável. Daí pouca gente notar a demora do vôlei.

A Premier League é o campeonato mais apaixonante do planeta e, também, o paraíso do picareta internacional. Kia Joorabchian se associou ao Corinthians em 2005, foi embora em 2007 e respondeu por anos a processo por lavagem de dinheiro no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Passou a agir livremente no mercado inglês, levou jogadores brasileiros para lá, fez negociações de Carlitos Tevez com West Ham, Manchester United e Manchester City, colocou Willian no Chelsea e, mais tarde, no Arsenal.

Antes, o meia do Corinthians jogou no Shakhtar, da Ucrânia, e no Anzhi, da Rússia.

O empresário Kia Joorabchian, nos tempos de Corinthians - Tuca Vieira - 25.ago.04/Folhapress

Kia era sócio de Boris Berezovski, sócio de Abramovich, quando, bem colocados no governo Boris Yeltsin, tornaram-se os executivos da empresa petrolífera Sibneft.

O dono do Chelsea e Berezovski depois tornaram-se rivais.

Abramovich fez bem à estrutura dos Blues. Construiu novo centro de treinamento, contratou pesos-pesados como Ballack, Deco e Drogba, mas também ajudou a revelar jogadores como Mason Mount, Reece-James e Chalobah.

Mas a lição é que não pode ser só dinheiro.

Isso vale para a Inglaterra, que agora persegue as irregularidades fiscais dos russos. Vale também para as recém-criadas Sociedades Anônimas do Futebol, no Brasil. São muito bem-vindos os investidores internacionais, desde que cumpram a lei e paguem impostos.

Dono de clube não serve para dar autógrafo. O dinheiro deles é importante, se limpo e ajudando a construir o alicerce do novo futebol brasileiro.

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