Ricardo Gomes jogava pelo Paris Saint-Germain, em 1994, dirigido pelo português Artur Jorge e foi questionado por este colunista, na época repórter da revista Placar, qual a diferença entre os treinadores brasileiros e europeus.
"Na Europa, eles fazem a receita do jogo e seguem até o fim. No Brasil, os treinadores mudam o sistema de acordo com o andamento das partidas."
Internacional x Corinthians mostrou mudanças de posicionamento nas duas equipes. Vítor Pereira foi especialmente transformador.
Inaugurou o jogo com linha de quatro defensores e três meio-campistas, Mantuan na ponta direita, Willian na esquerda. Aos 15 minutos, já tinha puxado Bruno Melo para o miolo da defesa e desenhado um 3-4-2-1, que na recomposição defensiva se tornava 5-4-1.
Pereira faz isso em quase todos os jogos e a maior surpresa foi começar contra a Portuguesa, em Itaquera, com esta formação. Em sua entrevista, definiu sua opção como 3-4-3 e deixou clara a sanfona para formar linha de cinco zagueiros, na recomposição.
O melhor executor deste tipo de sistema foi Antonio Conte, na Juventus, três vezes campeã italiana entre 2012 e 2014, no Chelsea, campeão inglês em 2017, e atualmente no Tottenham. Sem controlar o jogo nos minutos em que fez sua linha de cinco, Vítor Pereira voltou a usar quatro defensores e montou 4-2-3-1. O Corinthians melhorou na segunda etapa, de volta ao 4-3-3.
É muito comum ver variações táticas no Liverpool e Manchester City, pela capacidade dos jogadores compreenderem e executarem mais de uma função. Entender o jogo é parte do trabalho do jogador.
Hoje, técnicos de todas as nacionalidades obedecem ao que as partidas mandam. Se é preciso mudar jogadores de posição, obrigatório é fazer isso no momento exato em que o adversário começa a dominar.
Rogério Ceni também tem alternado a formação tática do São Paulo, assim como Abel Ferreira tem uma estratégia para cada adversário. Quinta-feira (12), contra o Juventude, Ceni usou Léo como terceiro zagueiro, puxou os laterais Igor Vinicius e Reinaldo para proteger a defesa e explicou a opção pela linha de cinco, no primeiro tempo contra o Juventude: "Estávamos sofrendo em bolas invertidas da direita para a esquerda, nas costas dos laterais." No segundo tempo, escalou Patrick no lugar de Arboleda e remontou seu time com quatro homens atrás.
O risco de copiar o sucesso de Antonio Conte, especialmente no Chelsea, é não ter rapidez na transição para o ataque e ficar preso atrás, até sofrer o gol.
Na temporada 2016/17, Guardiola tentou espelhar seu Manchester City ao Chelsea de Conte e não conseguiu. Perdeu em casa por 3 x 1.
Não é novidade times do Brasil reproduzirem desenhos táticos de equipes da Europa. A Roma de Fabio Capello, vencedora na Itália em 2001, tinha três zagueiros, uma linha de quatro meias, Totti na ligação e dois atacantes, Montella e Batistuta.
O Palmeiras de Celso Roth chegou à semifinal da Libertadores usando exatamente o mesmo esquema. Sóque sem o mesmo sucesso, por não ter o mesmo tempo de ensaio nem as mesmas características dos jogadores.
O Brasileirão tem cada vez mais jogos de estratégia.
DESLANCHAR
O São Paulo virou o jogo, tem padrão e já deu para entender que Rogério quer vaga na Libertadores pelo Brasileiro e tentar ganhar as Copas, quando afunilarem. Mas falta alguma coisa, sempre. Está em terceiro lugar, sem ser convincente. Quem está convencendo?
O RISCO DE GUARDIOLA
O Manchester City pressionou e tomou o primeiro gol. Depois, o segundo. Guardiola sentiu o baque da eliminação da Champions League e o City precisa ganhar do Aston Villa para ser campeão inglês. Está fácil o troféu. A vida de Guardiola anda mais polêmica do que nunca.
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