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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Liga de clubes não pode ser à moda Eurico Miranda

Não haverá solução enquanto cada clube puxar a brasa para sua sardinha

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O Flamengo retirou seu recurso ao STJD pelo direito de jogar em casa a partida de volta das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Athletico-PR. Fez-se a luz! Viva! Não haverá liga enquanto clubes brigarem por picuinhas ou por regulamentos e convenções só notadas quando os prejudicam.

A ameaça rubro-negra lembrou dirigentes do passado, como Vicente Matheus e Eurico Miranda.

No Campeonato Paulista de 1979, o então presidente corintiano se recusou a aceitar a tabela, que marcava rodada dupla, com Palmeiras x Guarani, seguido por Corinthians x Ponte Preta.

Na opinião do dirigente, a maior torcida paulista não poderia dividir a renda. O Corinthians não entrou em campo, perdeu por WO, mas parou o campeonato com uma liminar da Justiça comum.

Até hoje atribui-se à paralisação a perda de ritmo do Palmeiras, de Telê Santana, e o título corintiano, de craques como Sócrates e Palhinha. Uma coisa não precisa ser vinculada à outra, mas Matheus não aceitou decisão coletiva e usou um argumento individualista.

O craque Palhinha comemora o gol que sacramentou o título do Corinthians no Campeonato Paulista de 1979, finalizado em 1980 após a paralisação - Acervo - 10.fev.80/Folhapress

Certa vez, Eurico Miranda, por muitos anos presidente do Vasco, telefonou indignado depois de ouvir deste colunista: "Dizem que Eurico faz bem ao Vasco e mal ao futebol brasileiro. Ora, se o Vasco faz parte do futebol brasileiro e Eurico faz mal ao futebol brasileiro, então também faz mal ao Vasco".

A consequência é óbvia.

O Flamengo é, hoje, um dos líderes do processo de criação da liga e, ao mesmo tempo, um dos que menos pensam coletivamente. Não existirá projeto de um novo futebol brasileiro sem solidariedade.

Há, sim, uma falha do regulamento da CBF, que deveria trazer por escrito a proibição de dois times de mesma sede decidirem vaga nas quartas e nas semifinais da Copa do Brasil na mesma cidade.

Pode até ser uma convenção estúpida, mas existe há anos e só é contestada quando é conveniente e por quem não presta atenção ao assunto antes de entrar na disputa.

O Flamengo enfrentou o Athletico-PR quatro vezes pela Copa do Brasil. Decidiu todas as vezes no Rio de Janeiro e foi eliminado em duas delas. Se há discordância da aplicação das regras, o debate é legítimo. Levar ao tribunal é faltar com o espírito esportivo e dar à opinião pública a impressão de que houve má-fé –e não houve.

O Flamengo, de Rodolfo Landim, é um dos líderes do processo de criação da liga e, ao mesmo tempo, um dos que menos pensam coletivamente - Benné Mendonça - 25.nov.21/Casa Civil

É parecida, embora de outra família, a questão dos áudios divulgados ou desaparecidos, nos erros de arbitragem de campo e de vídeo. Todos os clubes vão à CBF reclamar quando se sentem prejudicados.

De fato, a comissão de arbitragem falha. Expõe o áudio do pênalti de Gustavo Gómez em Calleri, em Palmeiras 2 x 1 São Paulo. Mas não divulga a linha de impedimento não traçada no mesmo jogo. Também não apresenta o áudio do cartão amarelo a Marcos Rocha, que merecia vermelho, em lance não verificado pelo VAR.

O Atlético-MG reclama de não ter acesso às conversas dos árbitros que justifiquem a marcação do segundo gol do Flamengo, nos 2 a 0 das oitavas de final da Copa do Brasil. Tudo indica que a bola tenha ultrapassado a linha. Foi gol. Mas, se os dirigentes mineiros têm dúvida, merecem receber uma resposta à sua demanda.

Tem muito problema para ser resolvido. Não haverá solução enquanto cada clube puxar a brasa exclusivamente para sua sardinha.

Estamos em 2022, avançamos quase um quarto do século 21, e o olhar continua sendo clubista. Os dirigentes que pretendem formar uma liga brasileira forte não podem agir de forma tão mesquinha e egoísta como fizeram Vicente Matheus e Eurico Miranda no passado.

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