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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Perder como em 1982 ou ganhar como em 1994? Ganhar como em 2002!

A melhor opção mesmo é o futebol brasileiro ter todas essas histórias para contar

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O oitavo aniversário dos 7 a 1, nesta sexta-feira (8), não passará em esquecimento, mas um pouco ofuscado por duas datas redondas: 20 anos do penta e 40 da derrota do Sarriá.

Dois livros recentes debatem o time de Telê: "Anatomia do Sarriá" (Piero Trellini, Ed. Grande Área) e "82, uma Copa para Sempre" (Celso Unzelte e Gustavo Longhi de Carvalho, Letras do Brasil).

Tostão fez a gentileza do prefácio de "5 Estrelas – A Conquista do Penta", deste autor.

Desde Parreira, Romário e Bebeto, 28 anos atrás, uma pergunta se repete neste país pentacampeão mundial. "Você prefere ganhar como em 1994 ou perder como em 1982?"

Como se fosse um dilema brasileiro. Ou como se fossem duas opções únicas, como ser menottista ou bilardista, adepto do futebol-arte de César Luis Menotti ou do pragmatismo de Carlos Bilardo, campeões mundiais pela Argentina.

No Brasil, a polarização se impõe quando se debate Lula ou Bolsonaro, mas não 1982 ou 1994. É muito melhor ganhar como em 2002. Vencer todos os jogos e com o melhor ataque da Copa.

Ronaldo e Vampeta celebram o penta, em 2002 - Juca Varella - 30.jun.02/Folhapress

A seleção de 1970, a melhor de todos os tempos, é hors-concours.

O Mundial da Espanha, de 40 anos atrás, carrega o enigma de sua paixão. O professor José Paulo Florenzano tem uma tese brilhante. A seleção de Telê marcava o período da reabertura. De certa forma, da volta da alegria. As seleções sisudas e militarizadas de 1974 e 1978 eram retrato da ditadura, dos anos Médici e Geisel. O Brasil de 1982 era alegre como a crença de um país novo, três anos depois da anistia.

Então, se as seleções de 1974 e 1978 eram feias, a derrota do Sarriá não foi causadora da suposta adoção de um estilo pragmático nos campos brasileiros. Ele já existia antes, como confirma o texto "Brasil na retranca", publicado no Jornal do Brasil, em fevereiro de 1976, e reproduzido no livro "As 100 Melhores Crônicas Comentadas de João Saldanha" (pesquisa de Alexandre Mesquita, organização César Oliveira).

"Ouço falar muito em futebol ofensivo, declarações incisivas, entrevistas ao vivo, promessas e sempre aquela frase: ‘meu time vai jogar no ataque.’ Passa um tempinho e o time joga na retranca, como quase todos os times brasileiros estão fazendo."

Era 1976!!! Todos os times estavam na retranca, seis anos antes do Sarriá, segundo Saldanha. E, três anos depois da derrota, o Brasil festejava o futebol criativo e alegre dos Menudos, do São Paulo, de Cilinho.

Se o Sarriá fosse culpado pelo fim do espetáculo, não haveria uma equipe tão brilhante e festejada três anos depois.

Na mesma coletânea de escritos de João Saldanha, "O limite da estupidez", publicado em 6 de julho de 1982, um dia depois da eliminação, é crudelíssimo: "Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. […] Inventaram uma tática no Brasil, abandonando preciosos espaços de campo. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso. [...] Existe algo positivo, que é a desmistificação do charlatanismo."

João Saldanha, como comentarista, chamou Telê de charlatão - Acervo/Folhapress

Saldanha chamou Telê de charlatão, por não escalar pontas e deixar o lado direito entregue a Leandro! É incrível!

Quase tão incrível quanto parte da crônica dizer, um ano antes do penta, depois da derrota para Honduras sem Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Cafu e Roberto Carlos, que o Brasil não tinha mais craques.

Perder como em 1982 ou ganhar como em 1994? Ora, ganhar como em 2002! A melhor opção mesmo é o futebol brasileiro ter todas essas histórias para contar.

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