Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

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Lucro da Petrobras diz mais sobre erros do que acertos de Pedro Parente

Deseja-se que estatal tenha gestão profissional, não privada

Pedro Parente, ao anunciar o resultado da Petrobras no primeiro trimestre de 2018 - Sergio Moraes - 8.mai.2018/Reuters

Ganhou corpo nas últimas semanas a tentativa, aqui e ali, da construção de uma narrativa  sobre as supostas eficiência, retidão e resistência de Pedro Parente a toda sujeira que ameaçaria invadir seu gabinete pelas frestas da porta.

Nesta sexta (1º), o executivo anunciou sua saída do comando da Petrobras e acrescentou o epílogo à história: o herói, ao constatar que nem mesmo sua eficiência sobre-humana seria capaz de barrar o avanço dos visigodos, resolveu se recolher e preservar a própria biografia.

Parente assumiu uma empresa deficitária e a entrega, dois anos depois, superavitária. E bota superavit na planilha: R$ 7 bilhões de lucro líquido no primeiro trimestre do ano.

Se comandasse a empresa da família, mereceria uma estátua na entrada da casa de campo e o rosto estampado em brasões rococó.

Mas o diabo, é sabido, mora nos detalhes. Parente comandava uma estatal dona de um quase monopólio e, em consequência, da definição prática do valor final nas bombas. 

E implantou uma política de reajuste —em alguns casos, diários—  dos combustíveis baseada na variação do dólar e do preço do petróleo no exterior. Se em nome dos bilhões de lucro da Petrobras alguém está feliz em pagar R$ 5 pelo litro da gasolina e R$ 80 pelo botijão de gás —e como diria Buzz Lightyear, tendo o céu como limite—, ótimo. Os caminhoneiros, parece, não estavam.

O país virou de ponta-cabeça, o governo teve que entregar anéis e dedos. Saúde, educação e outros tantas áreas que já iam mal das pernas vão piorar mais um pouquinho.

Até o PSDB, ninho político (ops) de Parente, quer mudanças na sistemática de reajustes. Geraldo Alckmin e Aécio Neves —é, ele ainda se considera apto a apontar caminhos políticos ao país— defenderam um novo gestor que tenha “sensibilidade” ao impacto da política de preços   na vida dos consumidores.

Na narrativa citada no início, diz-se que o Brasil não está preparado para uma gestão profissional à Pedro Parente. De fato, não está.

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