Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

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Ranier Bragon

Acadêmicos do zap-zap tentam embaralhar a história e a ciência

No atual quiproquó, delírio é confundido com ponto de vista divergente

Na sessão da Câmara que tentou votar o Escola sem Partido, terça (13), defensores do projeto conversavam em voz alta no intervalo. 

Um dos temas era a “falta que há neste país de jornalistas investigativos não ideologizados”. O acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) em 2014, por exemplo. Por que os repórteres catequizados em Havana não iam  atrás da suspeita de que a aeronave se chocou contra outra, poucos meses depois de o PT, curiosamente, ter comprado drones da Rússia?

Sim, para haver um pingo de sentido, seria preciso um senhor complô envolvendo um sem-fim de pessoas e instituições, incluindo Aeronáutica e Polícia Federal, todos devidamente mudos até hoje, e por aí afora —mas quem se interessa por essa abstração chamada lógica?

Teorias conspiratórias sempre existiram. O chato é que com a internet elas se reproduzem como coelhos. Aliado a isso, ocorrências históricas, como o Holocausto e a escravidão, e teorias lapidares, como a da evolução das espécies, sofrem questionamentos sem qualquer lastro. 

Adeptos da falsa equivalência ainda as barbarizam sem dó ao equipará-las a trambolhos pseudocientíficos, batatadas olavo-de-carvalhianas ou teses à Ursal —tratando como ponto de vista divergente o que é só ponto de vista sem pé nem cabeça. 

No decorrer dos séculos milhões de pessoas dedicaram a vida ao saber humano, à formação e compreensão da ciência e da história, em uma marcha metódica e criteriosa de pesquisas, estudos, teorias, observações, investigações, testes, tudo submetido ao contraditório e ao escrutínio da academia e do tempo.

Mas basta um tuíte da tia-avó para alguém sair cacarejando por aí que Hitler, na verdade, terminou a vida plantando bromélias na Patagônia.

O jornalismo e o ensino de qualidade têm a obrigação de expor, com equilíbrio, todos os lados de temas controversos. Só é preciso diferir, sem pudor, o que é de fato controverso daquilo que não passa de desvarios dos acadêmicos do zap-zap.

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