Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ranier Bragon

A condenação de Daniel Silveira é uma condenação ao bolsonarismo

Os crimes cometidos pelo deputado chulo não diferem dos perpetrados por seu inspirador

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Supremo Tribunal Federal condenou nesta quarta-feira (20) não só o deputado federal marombado que não via limites até que alguém achou por bem lhe impor algum. O bolsonarismo nasceu, prosperou e se sustenta na constante tarefa de testar limites democráticos, civilizatórios e humanistas.

A cada forçada, um leve recuo e, novamente, adiante, metodicamente, até que eventualmente um risco no chão seja marcado ou que não haja mais limite.

O deputado Daniel Silveira, no Plenário da Câmara dos Deputados - Gabriela Biló/Folhapress

Daniel Silveira foi condenado por coagir julgadores e por ameaçar o Estado democrático de Direito. Crimes cometidos aos borbotões pelo bolsonarismo e, claro, Jair Bolsonaro (PL).

A frase que simboliza o direito à liberdade de expressão —atribuída a Voltaire, embora muito provavelmente ele nunca a tenha dito— é a de que eu não concordo com nada dessas coisas que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de dizê-las.

É um primor da apologia à livre circulação de ideias, da tolerância, do respeito ao contraditório, do amor ao debate, em suma, da certeza de que só no ambiente de liberdade intelectual é possível o avanço civilizatório.

Ocorre que autoritários e apologistas de ditaduras diversas a usam cinicamente para defender violência e ódio, com o objetivo de que se chegar ao regime ideal em que eu não concordo com nada do que você diz, mas vou manter meu bico devidamente calado.

Há quem sustente o perigo de essa restrição à liberdade de expressão se voltar contra todos. Esse argumento não leva em conta, porém, o fato de que isso só é possível em regimes de exceção defendidos e louvados justamente pelos espertalhões da liberdade de expressão absoluta.

O tamanho da pena aplicada nesta quarta repete o erro do lavajatismo purificador, cujas punições superavam a de homicidas. A condenação, contudo, é um importante risco no chão na tentativa de deter o esgarçamento de limites que, infelizmente, continuarão a ser testados por Bolsonaro e o bolsonarismo —como demonstrado nesta quinta (21).

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.