Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Raquel Landim

Por que os donos do dinheiro são benevolentes com Bolsonaro?

A questão é que está sobrando dinheiro barato no mundo 

Retrato de Jair Bolsonaro sorrindo
Jair Bolsonaro em Brasília - Mateus Bonomi/AGIF

Nesta semana, investidores reunidos pelo banco BTG Pactual receberam com entusiasmo o presidenciável Jair Bolsonaro. Durante uma hora, o coronel, conhecido por suas posturas estatizantes, tentou convencer seus interlocutores de que se tornou um liberal. A julgar pelos aplausos que recebeu, parece ter conseguido.

A benevolência dos donos do dinheiro com o ex-capitão, que já declarou publicamente sua defesa à ditadura militar e à tortura, dá uma amostra da disposição do mercado financeiro em fechar os olhos para os problemas brasileiros.

Nem mesmo o fracasso da reforma da Previdência é capaz de reverter a tendência positiva. Passada a folia do Carnaval, o governo pretende fazer um último esforço para conseguir os 308 votos que precisa na Câmara. As chances, no entanto, são mínimas.

Políticos, analistas, banqueiros — ninguém espera que seja aprovado algo razoável. Meses atrás, isso seria considerado o apocalipse. Agora parece não fazer diferença.

Está difícil entender tamanho otimismo. É verdade que a economia deve crescer entre 2% e 3% neste ano, depois de uma das piores recessões da história, mas poucas vezes o futuro do país esteve tão indefinido.

Com a provável saída de Lula da disputa, não há líderes claros na corrida presidencial. A situação fiscal continua caótica. Sem a reforma da Previdência, o Brasil vai quebrar —pode não ser este ano, mas talvez já no próximo.

A questão é que está sobrando dinheiro barato no mundo. Por conta disso, os investidores estão dispostos a dar o benefício da dúvida a qualquer candidato que se disponha a terceirizar a economia para algum economista renomado —até mesmo Bolsonaro.

Mas quem conhece a cabeça do mercado lembra que ele é extremamente volúvel. Se houver alguma nuvem na economia global, o vento pode mudar e facilmente derrubar o Brasil, que já anda na corda bamba.

A atual calmaria não representa uma licença para que os candidatos prometam gastar um dinheiro que o país não tem. Ao contrário de 2014, não há muito espaço para mentiras nessa campanha eleitoral.

O futuro mandatário será duramente cobrado —pela população e pelos investidores— desde o momento em que vestir a faixa presidencial.

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