Já escrevi neste espaço que uma das máximas mais verdadeiras da economia é a de que não existe almoço grátis. Em outras palavras: as leis econômicas são implacáveis —até mesmo para o poderoso presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Reportagem desta Folha, da colega Mariana Carneiro, trouxe a informação de que os exportadores de aço que ficaram de fora das barreiras impostas por Trump, inclusive o Brasil, passaram a vender o produto 25% mais caro para os EUA.
Isso significa que o preço do aço está subindo significativamente no mercado americano. Pode até ser motivo de comemoração para o antiquado setor siderúrgico do país, que apoiou a eleição de Trump, mas certamente vai desagradar a uma fatia muito maior da população.
O aço é um insumo fundamental para a fabricação de um sem número de produtos, que vão de automóveis a eletrodomésticos, incluindo tubos e fios para a construção civil. Ou seja, as barreiras protecionistas de Trump já estão provocando um aumento da inflação nos Estados Unidos.
E outras consequências, certamente, não tardarão a vir: a inflação vai corroer o poder de compra do trabalhador americano e o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, será obrigado a subir os juros, encarecendo os empréstimos. Tudo isso somado vai atrapalhar a recuperação da economia local e a geração de empregos.
Diante da escalada de preços do aço, o secretário de Comércio, Wilbur Ross, adotou um discurso tão conhecido pelos populistas latino-americanos: ameaçou punir as empresas que estejam lucrando de maneira "ilegítima" com a elevação das tarifas do aço. Desculpe, secretário, mas não adianta nada esbravejar. Seu país foi um dos primeiros a ensinar ao mundo que não se deve brigar com o “mercado”.
E isso simplesmente porque o “mercado” não é um ente maléfico que quer prejudicar os cidadãos, mas apenas uma lógica econômica. Se existe uma oportunidade de vender mais caro e lucrar mais, é natural que se caminhe nesse sentido. Do mesmo jeito que os preços caem quando as vendas se retraem.
Também não vale a pena o Brasil ficar comemorando o aço vendido um pouco mais caro para os EUA ou um pouco mais de embarque de soja para o mercado chinês. É claro que essas oportunidades tem que ser aproveitadas, mas que ninguém se iluda: inflação nos EUA é igual a dólar mais caro no Brasil e menos crescimento no mundo todo.
Um dos melhores economistas com os quais já conversei me disse certa vez que o pior líder é aquele que, mesmo diante de todas as evidências de que sua política econômica está equivocada, não só não muda o caminho como acelera em direção ao muro. Ele se referia à ex-presidente brasileira, Dilma Rousseff, mas a descrição também é perfeita para Trump.
Os apoiadores de um e de outro chamam isso de determinação, mas, na verdade, trata-se de burrice. Dilma acabou sofrendo impeachment. E Trump, onde vai parar?
P.S: Saio de férias hoje. Até o início de agosto.
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