Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Raquel Landim
Descrição de chapéu Balanços

Com sua guerra comercial, Trump acelera em direção ao muro

Barreiras protecionistas já estão provocando um aumento da inflação nos EUA

Já escrevi neste espaço que uma das máximas mais verdadeiras da economia é a de que não existe almoço grátis. Em outras palavras: as leis econômicas são implacáveis —até mesmo para o poderoso presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Reportagem desta Folha, da colega Mariana Carneiro, trouxe a informação de que os exportadores de aço que ficaram de fora das barreiras impostas por Trump, inclusive o Brasil, passaram a vender o produto 25% mais caro para os EUA.

Donald Trump - AFP

Isso significa que o preço do aço está subindo significativamente no mercado americano. Pode até ser motivo de comemoração para o antiquado setor siderúrgico do país, que apoiou a eleição de Trump, mas certamente vai desagradar a uma fatia muito maior da população.

O aço é um insumo fundamental para a fabricação de um sem número de produtos, que vão de automóveis a eletrodomésticos, incluindo tubos e fios para a construção civil. Ou seja, as barreiras protecionistas de Trump já estão provocando um aumento da inflação nos Estados Unidos.

E outras consequências, certamente, não tardarão a vir: a inflação vai corroer o poder de compra do trabalhador americano e o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, será obrigado a subir os juros, encarecendo os empréstimos. Tudo isso somado vai atrapalhar a recuperação da economia local e a geração de empregos.

Diante da escalada de preços do aço, o secretário de Comércio, Wilbur Ross, adotou um discurso tão conhecido pelos populistas latino-americanos: ameaçou punir as empresas que estejam lucrando de maneira "ilegítima" com a elevação das tarifas do aço. Desculpe, secretário, mas não adianta nada esbravejar. Seu país foi um dos primeiros a ensinar ao mundo que não se deve brigar com o “mercado”.

E isso simplesmente porque o “mercado” não é um ente maléfico que quer prejudicar os cidadãos, mas apenas uma lógica econômica. Se existe uma oportunidade de vender mais caro e lucrar mais, é natural que se caminhe nesse sentido. Do mesmo jeito que os preços caem quando as vendas se retraem.

Também não vale a pena o Brasil ficar comemorando o aço vendido um pouco mais caro para os EUA ou um pouco mais de embarque de soja para o mercado chinês. É claro que essas oportunidades tem que ser aproveitadas, mas que ninguém se iluda: inflação nos EUA é igual a dólar mais caro no Brasil e menos crescimento no mundo todo.

Um dos melhores economistas com os quais já conversei me disse certa vez que o pior líder é aquele que, mesmo diante de todas as evidências de que sua política econômica está equivocada, não só não muda o caminho como acelera em direção ao muro. Ele se referia à ex-presidente brasileira, Dilma Rousseff, mas a descrição também é perfeita para Trump. 

Os apoiadores de um e de outro chamam isso de determinação, mas, na verdade, trata-se de burrice. Dilma acabou sofrendo impeachment. E Trump, onde vai parar?

P.S: Saio de férias hoje. Até o início de agosto. 

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