Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Raquel Landim
Descrição de chapéu Balanços

A velha política pode ter nos armado uma arapuca

Candidatos com chances de passar para o 2º turno não podem se arvorar como representantes do novo

Nos meses que antecederam o pleito presidencial de 2018, muito se discutiu nos jornais, nas revistas, na TV, e, principalmente, nas redes sociais sobre o “novo”. A tese era que as investigações da Operação Lava-Jato, que desvendaram um dos maiores esquemas de corrupção do país, haviam despertado na população um anseio por novos líderes.

Cogitaram-se as candidaturas à Presidência do apresentador de TV Luciano Huck e depois do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa. Eram dois neófitos na política, que ficaram tentados, mas acabaram desistindo depois de pesar os prós –o poder que vem na subida da rampa do Planalto– e os contras –a devassa de suas vidas particulares.

Faltando menos de um mês para o pleito, a disputa continua embolada, mas a velha política pode ter nos armado uma arapuca. Os candidatos com chances de passar para o segundo turno – Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Ciro Gomes –representam visões de mundo distintas entre si, mas nenhum pode se arvorar como o representante do “novo”.

Bolsonaro está no Congresso há 27 anos, Marina foi senadora e ministra, Alckmin e seu partido governam São Paulo há duas décadas, Haddad foi ministro e prefeito de SP, enquanto Ciro também já foi de tudo na política, em diferentes governos e partidos.

Sempre que surge uma oportunidade, Bolsonaro, Marina e Ciro lembram que não estão na mira do Ministério Público, o que em tempos como os atuais não é pouca coisa. Pesam acusações contra Alckmin e Haddad, mas não há nada, por enquanto, que os impeça de exercer o mandato, caso eleitos.

Receio que a maior armadilha esteja se armando no Congresso. Matéria publicada nesta Folha mostrou que pelo menos 19 réus e 12 acusados pela Lava-Jato disputam as eleições, entre eles caciques políticos envolvidos em vários escândalos como Renan Calheiros (candidato ao Senado por Alagoas) ou Romero Jucá (candidato ao Senado por Roraima). É verdade que alguns enfrentam disputas apertadas, mas ainda tem boas chances de continuarem onde sempre estiveram: no centro do poder em Brasília.

A nova legislação eleitoral não colabora para a renovação, porque concentra os recursos – públicos – nos partidos. Mas o maior problema ainda continua sendo a pouca importância que o brasileiro dá aqueles que realmente definem seu destino e que muitas vezes transformam presidentes em reféns: o Congresso. Você já escolheu em quem vai votar para senador, deputado federal e deputado estadual?

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