A facada que atingiu o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (6) em Juiz de Fora (MG) é o exemplo mais grave da polarização que afeta a sociedade brasileira na campanha presidencial.
O ato – inaceitável – demonstra que a lógica da política está totalmente distorcida no Brasil, com os ânimos muito acirrados a medida que a campanha avança.
Não dá para esquecer que a caravana do ex-presidente Lula, hoje preso em Curitiba, foi alvo de tiros no começo de abril deste ano, no sul do país.
“Nessa eleição, não existem adversários, mas inimigos. E ninguém vota num inimigo”, disse à coluna o cientista político Fabio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Faltando pouco mais de um mês para as eleições, a pergunta que interessa hoje, portanto, não é em quem você vai votar, mas contra quem você vai votar.
A mais recente pesquisa Ibope mostrou um aumento de sete pontos percentuais da rejeição tanto de Bolsonaro quanto de Fernando Haddad (PT) —os candidatos que mais representam a polarização.
O percentual de eleitores que não votaria em Bolsonaro de jeito nenhum chegou a 44%, enquanto o de Haddad está em 23%. É provável, porém, que a rejeição ao último suba mais quando ele for reconhecido como o candidato do PT, depois da inelegibilidade de Lula.
É como se o Brasil estivesse dividido entre duas trincheiras, com soldados apaixonados em ambos os lados. E, no meio, uma massa de eleitores que não tem um preferido e vai votar em qualquer um que garanta a derrota do candidato que detestam.
Marina Silva e Geraldo Alckmin tendem a roubar votos um do outro, caso consigam se descolar nas pesquisas e aparecer como alternativa viável contra Bolsonaro – chamado de “mito” por seus apoiadores e “inominável” por seus opositores.
Já Ciro Gomes e Fernando Haddad vão brigar pelos votos da esquerda.
Os petistas costumam ser mais convictos de suas posições, mas não é impossível que mudem de ideia para garantir que não fiquem apenas candidatos de centro-direita no segundo turno.
Apenas uma coisa é certa até agora: essa polarização é péssima para a democracia e pode comprometer a governabilidade do país, principalmente se o vencedor estiver em uma das pontas do espectro. Se isso ocorrer, o eleito governará com metade da população contra si.
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