A tragédia em Brumadinho (MG) completa uma semana nesta sexta-feira (1). Com uma centena de mortos e mais de duzentas pessoas desaparecidas, é evidente que a prioridade é continuar nas buscas e apoiar as famílias.
Todavia já se aproxima a hora de a empresa dar à sociedade algumas respostas: por que a barragem se rompeu? E pior ainda, por que isso aconteceu apenas três anos após o desastre em Mariana (MG)?
Ninguém nega a complexidade da questão e que certamente não existe apenas um causa. Mas não dá para esperar que o tema suma do noticiário para cobrar que a Vale nos diga pelo menos quais são as hipóteses com as quais trabalha.
Sem chegar ao fundo da questão, não poderemos impedir novas tragédias. A Samarco, controlada pela mesma Vale e pela britânica BHP, até hoje não entregou respostas convincentes sobre Mariana.
Conversas com especialistas em minério de ferro e executivos que conhecem a Vale dão algumas pistas: as duas barragens eram a montante (construídas com os próprios rejeitos) e as duas barragens passavam por algum tipo de obra de alteamento (elevar a altura).
Outro contexto que não pode ser ignorado é que as barragens nunca subiram tão rápido no Brasil quanto nos últimos anos, reflexo do exponencial aumento da produção e também da queda da qualidade do minério. Quanto mais pobre o minério, maior a necessidade de lavá-lo para concentrar o produto e maior a quantidade de rejeitos.
Conforme dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), a produção de minério de ferro no Brasil mais do que duplicou: saiu de 213 milhões de toneladas em 2000 para 440 milhões em 2017 – reflexo da demanda chinesa pela commodity.
Foi uma imensa ajuda para a balança comercial. Em 2000, o Brasil exportava US$ 3 bilhões em minério de ferro. Em 2018, o país arrecadou US$ 20,2 bilhões com o produto, o que representa 8,4% nas vendas externas totais.
Graças ao know-how da Vale, o Brasil se tornou o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo, atrás apenas da Austrália. Só que a regulação não acompanhou: o país tem hoje 35 fiscais para 790 barragens e as próprias empresas produzem os laudos que atestam a segurança.
E isso num país onde a mineração é extremamente sensível, pois é feita em zonas de florestas, perto de rios, próxima das cidades e da população. Será que isso não contribuiu para o desastre?
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