Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Raquel Landim

Vice-presidente Mourão é hedge do setor privado contra barafunda no governo

Empresários querem proteção contra naufrágio da reforma da Previdência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

As promessas de uma trégua entre Planalto e Congresso e de algum avanço na reforma da Previdência acalmaram um pouco o mercado, depois de dias bastante nervosos. Na quarta-feira (27), o dólar chegou a bater R$ 4,00, patamar próximo aos níveis pré-eleição.

A leitura que se pode fazer dessa movimentação é a seguinte: os investidores estão rezando para que o presidente Jair Bolsonaro tenha aprendido a lição e que realmente a desavença com o deputado Rodrigo Maia, que comanda a Câmara dos Deputados, tenha sido “chuva de verão”.

Mas que ninguém se engane. O mercado segue assustado com a falta de habilidade política do governo, reconhecida pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, e vai continuar extremamente sensível, acompanhando passo a passo a tramitação da reforma.

Duas semanas atrás, escrevi neste espaço que Bolsonaro teria que mostrar resultados e não conseguiria enrolar os investidores por muito tempo. A situação, no entanto, piorou muito em relação àqueles dias que já parecem distantes.

A reversão das expectativas foi violenta por causa da troca pública de insultos entre Bolsonaro e Maia, que até agora não deu sequer para entender os reais motivos. O clima ficou ruim não só entre os investidores, mas no setor privado como um todo. Já está em queda o nível de confiança entre empresários e consumidores, o que pode ter reflexos na economia real.

Como dinheiro não aceita desaforo e não existe vácuo de poder, um banqueiro confidenciou a esta colunista que os empresários vem fazendo um “hedge” contra a barafunda que se tornou o governo Bolsonaro.

No linguajar financeiro, “hedge” é uma tomada de posição para se proteger de um risco. E, neste caso, a proteção do risco de naufrágio da reforma da Previdência e, consequentemente, do crescimento econômico ainda tímido do país tem nome e sobrenome: Hamilton Mourão.

Não foi à toa que cerca de 600 empresários fizeram fila para receber o vice-presidente na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na terça-feira (26). Os adjetivos que ouvi de um dirigente de uma grande empresa para descrever Mourão foram “preparado”, “articulado”, “muito ponderado” – tudo que Bolsonaro não tem demonstrado ser.

Ninguém está dizendo aqui que existe um movimento entre os “donos” do PIB pelo impeachment do presidente. O governo não tem nem cem dias, boa parte da elite apoiou Bolsonaro na eleição, o Brasil atravessou recentemente um processo de impeachment que deixou profundas sequelas, e empresários não gostam de solavancos na política porque atrapalha os negócios.

O maior desejo de todos com quem conversei é que Bolsonaro passe a se empenhar na aprovação da reforma da Previdência e deixe de sabotar o próprio governo. O recado dos empresariado, contudo, foi dado: se o presidente não sair do Twitter e começar a governar, o Brasil tem opções. As declarações mais recentes de Bolsonaro podem significar que a mensagem foi ouvida – ou não, pois reviravoltas se tornaram rotina. A conferir.

Vice-presidente Hamilton Mourão durante campanha presidencial, em setembro de 2018. Figura do general da reserva do Exército é vista pelo setor privado como garantia contra possível naufrágio da reforma da Previdência. - Michael Dantas/Folhapress

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.