Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Bolsonaro acreditou que era um mito e agora não consegue governar

Quase cinco meses de mandato se tornaram um vazio de resultados

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Jair Bolsonaro criou uma narrativa fantasiosa para se eleger Presidente da República. Convenceu a população de que —apesar de ter passado 27 anos no Congresso e ter elegido três filhos— representava o “novo” na política.

Ele incorporou de tal maneira o personagem que agora não consegue se livrar dele e negociar com o Congresso. Assim, vai perdendo as ferramentas para governar e seus quase cinco meses de mandato se tornaram um vazio de resultados.

A confusão em torno da reforma administrativa é um exemplo acachapante do problema. Bolsonaro não reúne apoio sequer para aprovar a estrutura do seu próprio governo.

Vai ser obrigado a recriar ministérios —Integração Nacional e Cidades— e assistiu impassível a mais uma derrota do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que já deve estar arrependido de ter trocado a toga pela política.

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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) durante cerimônia no Itamaraty - Pedro Ladeira-03.mai.19/Folhapress

E esse não foi o único exemplo da falta de governabilidade apenas nesta semana. Por que o presidente decidiu flexibilizar o porte de arma por decreto? Trata-se de matéria claramente parlamentar, como já sinalizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. 

A única resposta possível é a dificuldade que o Executivo teria de levar adiante uma revisão do Estatuto do Desarmamento no Congresso, apesar do perfil conservador dos parlamentares eleitos. Por isso, vai pelo caminho mais fácil, apenas para ter que admitir no dia seguinte que aceita rever seu próprio decreto.

O cientista político Jairo Nicolau, professor da UFRJ, diz que Bolsonaro demonizou a política, quando ainda na campanha prometeu que não se entregaria ao “toma lá dá cá”, incluindo no balaio da corrupção mecanismos legítimos de governo como liberação de verbas no Orçamento e distribuição de ministérios aos partidos.

“Dada a fragmentação do nosso sistema partidário, os deputados funcionam como despachantes de suas regiões de origem. Um presidente, portanto, não possui tantos mecanismos assim para angariar apoios”, explica Nicolau.

Ele acredita que o governo pode até aprovar uma reforma da Previdência, por causa da mobilização da sociedade em torno do tema, mas dificilmente conseguirá governar quatro anos dessa forma.

Bolsonaro e seus seguidores imaginavam que a pressão da opinião pública forçaria os parlamentares a votar conforme os interesses do governo. Ignoraram a legitimidade do Congresso que, apesar de todos os problemas, também foi eleito.

Em resumo: acreditaram que o presidente era um “mito” e, felizmente, estão descobrindo que as instituições ainda funcionam no Brasil. Resta saber como vão sair da armadilha que armaram para si próprios.

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