Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Críticos erram nas contas da privatização da BR Distribuidora

Comentários eram que a Petrobras teria vendido a empresa por valor muito baixo

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Depois que se concretizou a privatização da BR Distribuidora através de uma oferta de ações em bolsa, pipocaram críticas ao negócio nas redes sociais. A principal delas é que a Petrobras teria vendido a empresa por um valor muito baixo.

As reclamações se tornaram mais inflamadas com base na seguinte conta: quando se concretizar a venda do lote adicional de papeis, a estatal terá arrecadado R$ 9,6 bilhões com a operação, enquanto a BR lucrou R$ 3,2 bilhões apenas no ano passado.

A comparação, no entanto, está equivocada por diversos motivos. O primeiro erro é que a Petrobras não vendeu a empresa inteira, mas uma fatia de pouco mais de 33%.

Posto de combustível da bandeira BR em Perdizes, zona oeste de São Paulo
Posto de combustível da bandeira BR em Perdizes, zona oeste de São Paulo - Rodrigo Capote/Folhapress

A ação da BR Distribuidora foi avaliada a R$ 24,50 no negócio, o que significa um valor de mercado total de R$ 28,5 bilhões - portanto, bem acima dos R$ 3,2 bilhões de lucro.

A segunda incorreção é fazer a analogia do valor obtido na venda com o lucro. Geralmente os investidores observam a geração de caixa. O lucro pode estar inflado por questões financeiras diversas, que é exatamente o que acontece no caso da BR Distribuidora.

Em 2018, a empresa recebeu algumas parcelas de um calote expressivo na venda de combustível para térmicas da região Norte – uma confusão resultante da política da ex-presidente Dilma de congelar os preços da energia. Logo, trata-se de uma receita não recorrente expressiva.

Já quando se compara o valor que a BR foi avaliada na privatização com sua geração de caixa, o múltiplo varia entre 7 vezes e 8,5 vezes e meia, dependendo de quem faz a conta. A geração de caixa é estimada por diferentes analistas para 2019 e 2020, pois o que interessa é o que a empresa vai produzir de valor no futuro.

Não é um múltiplo ruim. Está em linha com as concorrentes do setor – Ipiranga e Shell/Raízen – e acima dos 5,5 vezes da Petrobras. Isso significa que a estatal fez dinheiro com o negócio. Só haveria destruição de valor se o múltiplo tivesse saído abaixo do da própria Petrobras.

Mesmo diante de todos esses dados, alguns críticos argumentam que a Petrobras não deveria se desfazer de ativos lucrativos. A lógica da empresa tem sido vender tudo que não está no coração do seu negócio, que é a exploração de petróleo, para reduzir dívida.

O problema é que as pessoas têm memória curta. No auge do congelamento do preço da gasolina promovido por Dilma e das revelações de corrupção feitas pela Operação Lava Jato, a Petrobras quase quebrou.

A BR Distribuidora ficou conhecida como um reduto do ex-presidente e na época senador, Fernando Collor de Mello. Em maio deste ano, a Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou Collor por peculato. Ele é acusado de desviar R$ 240 milhões em contratos da empresa para um empresário amigo.

É verdade que desde então bastante coisa mudou por lá. Indicado pelo então presidente Michel Temer, o ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente, montou um time profissional na BR Distribuidora. A motivação para a mudança: fazer um IPO (Oferta Pública de Ações), o que ocorreu em dezembro de 2017, e acabar vendendo o controle da empresa na bolsa, o negócio selado nesta semana.

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