Em setembro de 2015, quando o dólar chegou a R$ 4,05, o site O Antagonista publicou um texto no Twitter ironizando a situação: “Não poderíamos deixar de parabenizar Dilma Rousseff pelo dólar a R$ 4,05, a maior cotação da história do real.”
Neste semana, quando a moeda americana atingiu R$ 4,17, os internautas resgataram a postagem e não perdoaram. “Parabéns, Jair Bolsonaro. Ao menos algum número seu é maior que o do governo Dilma”, disse um deles.
Os números não mentem. Apesar da reforma da Previdência, o real se desvalorizou significativamente, reduzindo o poder de compra do brasileiro.
Isso significa que o governo Bolsonaro é pior que o de Dilma na área econômica? Faço questão de frisar: na área econômica. Não estamos falando sobre outros temas, como meio ambiente, direitos humanos, educação, etc.
A resposta é não. O que aconteceu é que o ministro Paulo Guedes (Economia) deu um baita azar e tomou uma rasteira do cenário internacional, que piorou significativamente nas últimas semanas.
Como demonstrou a repórter Julia Moura nesta Folha, os principais indicadores do mercado financeiro –dólar, bolsa, juros e risco-país– voltaram aos patamares prévios à votação da reforma da Previdência.
A ampla margem de aprovação da reforma –379 votos no primeiro turno e 370 votos no segundo– foi uma importante vitória política do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e também do governo.
Acalmou um pouco o conturbado cenário político interno, a despeito das bobagens ditas quase sem parar pelo presidente Jair Bolsonaro. Os investimentos, principalmente no mercado imobiliário, começaram a voltar e animaram o PIB do segundo trimestre do ano.
Mas a bonança durou pouco. A guerra comercial entre Estados Unidos e China recrudesceu e surgiram sinais de desaceleração também na China e na Alemanha.
O temor de recessão global levou os investidores a tirar dinheiro dos países emergentes, incluindo o Brasil. Daí o atual patamar do câmbio, que vem respondendo muito mais ao cenário externo que interno.
“Não fosse o quadro externo tão avesso ao risco, sem dúvida, os ativos no Brasil estariam em melhor patamar”, disse à coluna Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a tensão vai continuar.
Com as eleições nos Estados Unidos se aproximando, a China deve jogar duro contra Trump, para minar suas chances de se reeleger. O presidente americano também não quer mostrar fraqueza diante de seu eleitorado. Nada indica, portanto, que a sorte de Guedes vá mudar em breve.
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