Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Bolsonaro ignora mortes e desrespeita os brasileiros que fizeram a história do país

É provável que a militância, que o presidente se esforça para agradar, reprovasse elogio a um banqueiro

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Lázaro Brandão, ex-presidente do conselho de administração do Bradesco e responsável por construir o colosso que foi por anos o maior banco privado do Brasil, era extremamente cortês.

Fazia questão de cumprimentar todas as pessoas quando estava no banco, desde os faxineiros até seus vice-presidentes. E, aos 93 anos, ele ainda frequentava bastante a sede da instituição na Cidade de Deus, em Osasco (SP).

Fazia sentido, portanto, a torrente de mensagens que chegavam na quarta-feira (16), quando ele faleceu. Mas havia um silêncio quase ensurdecedor para quem entende de economia: o do governo Jair Bolsonaro.

Nenhuma mensagem de condolências do presidente ou de seus ministros, incluindo Paulo Guedes (Economia).

Só vieram manifestações de pesar nominais do presidente do Banco do Brasil, Rubens Novaes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, lamentou a morte em entrevista à imprensa.

Brandão não é o único brasileiro cuja trajetória foi preterida por Bolsonaro. Chocou o país quando o presidente não fez nenhuma homenagem ao compositor João Gilberto, que morreu em julho deste ano. Não eram poucos os brasileiros que esperavam que ele decretasse luto oficial.

Depois de ser questionado pelos repórteres sobre o caso, Bolsonaro afirmou o seguinte sobre o criador da bossa nova, responsável por “exportar” a música brasileira para o mundo: “Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”.

Também chama a atenção a postura do presidente em casos que abalam a sociedade. Ele desprezou a morte da menina Agatha, que tomou um bala nas costas dentro de uma Kombi enquanto voltava para casa com a mãe no Rio de Janeiro.

Tampouco se compadeceu com a execução, por engano, de um músico com 80 tiros disparados pelo Exército. Pelo contrário. Após um longo silêncio, chamou o episódio de “incidente” e defendeu os militares.

É difícil dizer o que motiva Bolsonaro a agir assim. Pode ser que ele seja mal assessorado e não tenha ninguém que sopre no seu ouvido quem é aquele fulano que morreu. Mas será que é assim em todo o governo? Muitos auxiliares já estão imitando o (mau) exemplo do chefe. 

Vale lembrar que, quando o músico Tales Volpi, o Mc Reaça, foi encontrado morto após agredir a amante grávida, Bolsonaro correu para comentar a perda no Twitter, citando seu “dom” e “grande talento”. A militância bolsonarista aplaudiu.

É provável que essa mesma militância, que o presidente se esforça tanto para agradar, reprovasse que Bolsonaro elogiasse um banqueiro ou um músico. Talvez por conta disso ele opte por ignorar os brasileiros que fizeram a história do país. Ou quiçá seja apenas falta de educação mesmo.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, lamentou, em entrevista à imprensa, a morte de Lázaro Brandão.

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