Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Na barganha entre EUA e Brasil, por enquanto, só promessas vazias e 'jogo jogado'

Não é segredo que EUA têm sérias restrições a uma ampla expansão da OCDE

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Causou furor nesta quinta-feira (10) a revelação de que os Estados Unidos enviaram uma carta apoiando formalmente Argentina e Romênia para o ingresso na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Em teoria, o presidente americano, Donald Trump, teria descumprido uma promessa feita ao aliado brasileiro, Jair Bolsonaro, de respaldar o ingresso do Brasil na organização –um selo importante para atrair investimentos.

O problema é que negociações internacionais são terreno pantanoso. Em março, o governo brasileiro comemorou vitória quando Bolsonaro esteve em Washington e voltou com a oferta americana. Mas a equipe econômica estava ciente das dificuldades.

Já se sabia há tempos que os EUA seguiriam a fila e apadrinhariam primeiro a Argentina junto com um país europeu, a Romênia. O Brasil, portanto, seria próximo, quando a oportunidade chegasse —e esse último ponto é importante frisar.

Também não era nenhum segredo que os EUA têm sérias restrições a uma ampla expansão da OCDE, porque temem perder poder de influência na organização com a entrada de muitos europeus. A praxe é ingressar um americano e um europeu para manter o equilíbrio. 

A Europa, por outro lado, deixou claro que quer o acesso de Croácia e Bulgária. O impasse, portanto, é óbvio: se os EUA não apoiarem a entrada de outro europeu, não haverá um par para o Brasil e, na prática, o país continua fora da OCDE.

É essa sutileza que permite a Trump apoiar o Brasil  —e referendar isso uma e outra vez; a embaixada americana em Brasília voltou a repetir que a promessa está mantida– sem que nada aconteça.

Felizmente, o Brasil está andando no mesmo ritmo dos Estados Unidos. Explico: quando os EUA se comprometeram a referendar a entrada do país na OCDE, o Brasil informou que mudaria de postura na OMC (Organização Mundial de Comércio).

A delegação brasileira efetivamente fez tempos atrás um discurso em Genebra dizendo que, em negociações futuras, abriria mão do tratamento especial e diferenciado concedido aos países em desenvolvimento, que permite, por exemplo, redução mais lenta de tarifas e a manutenção de certos subsídios.

Todavia recomendo atenção para a palavra futuras. Ou seja, ainda não aconteceu nada na OMC, que passa por uma reformulação. A verdade, portanto, é que até agora o placar está zero a zero entre Brasil e Estados Unidos.

Também vale lembrar que promessas vazias são comuns em negociações internacionais. Em viagem a China em 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu reconhecer o gigante asiático como uma “economia de mercado”.

O novo status chinês dificultaria para o governo brasileiro a aplicação de medidas antidumping contra os produtos chineses. Os chineses fizeram muita pressão, mas estão esperando até hoje, pois a regulamentação da medida nunca ocorreu.

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