Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Eliane Trindade

A saga de um banqueiro e um cientista para criar o creme usado por Carla Bruni

Alemão se une a francês para lançar marca de cosméticos à base de células-tronco

Um produto revolucionário de beleza e rejuvenescimento nasce em um jantar na Tailândia no qual um cientista alemão conhece um banqueiro francês que decide investir no desenvolvimento de um creme facial usado hoje por estrelas como Carla Bruni e Dakota Johnson.

Assim pode ser resumido o meteórico surgimento da marca de cosméticos Augustinus Bader, que leva o nome do pesquisador até então conhecido pelos estudos científicos em células-tronco.

Quatro anos e US$ 40 milhões depois daquele jantar, Charles Rosier, ex-sócio do BTG Pactual na Europa, apresentava ao mundo seu novo negócio: o lançamento mundial de dois cremes antienvelhecimento.

O investidor-anjo conta que levou dois anos para convencer Bader, focado em seu trabalho como pesquisador da Universidade de Leipzig há 30 anos, a se tornar seu sócio e enveredar pelo ramo da cosmética.

QUEIMADURAS E RUGAS

"Vi fotos de meninas queimadas tratadas com o hidrogel experimental criado pelo professor e tive um 'insight': perguntei a ele naquela noite se o produto que podia reparar queimaduras e cicatrizes na pele não poderia também reparar rugas?", relata Rosier

O banqueiro se impressionou sobretudo com os resultados do tratamento experimental de regeneração de pele de queimados. O método inovador desenvolvido pelo alemão detentor de 200 patentes médicas consiste em enviar sinais às células-tronco adormecidas no corpo humano para ativá-las e desencadear processos regenerativos.

A resposta de Bader à provocação do banqueiro foi positiva. Quando as conversas evoluíram para uma sociedade de fato, em 18 meses sairiam do laboratório dois cremes desenvolvidos pelo pesquisador alemão a partir do produto medicinal em gestação há mais de uma década e ainda em fase de testes clínicos.

“Desenvolvimento de pesquisa científica é muito mais difícil, já são 15 anos de trabalho e milhões de euros investidos”, disse Bader à Folha, durante a apresentação da linha facial de dois cremes em São Paulo em março, ao lado do sócio francês. 

“Minha expectativa agora com o início das vendas globais dos produtos cosméticos é financiar o término da pesquisa médica.”

Rosier e o cientista são sócios da ASC Skin Therapeutics, uma empresa cujo objetivo é explorar as aplicações médicas do tratamento desenvolvido por Bader.

Daí também surgiu uma "spin-off", a empresa de cosméticos ASC Regenity, que comercializa a marca que leve o nome do cientista considerado um dos maiores especialistas em medicina regenerativa e engenharia de tecidos.

CANDIDATO AO NOBEL

Embora tenha sido originalmente projetado para vítimas de queimaduras e grandes cicatrizes de pele, o hidrogel de propriedade médica também vem sendo testado em pacientes com Parkinson, esclerose múltipla e neuropatias graves.

“A descoberta do Augustinus ainda vai lhe render um Prêmio Nobel. É revolucionária”, aposta Rosier

O entusiasmo levou o francês a vender todas as suas ações no BTG Pactual e concentrar seus investimentos nos dois negócios que apostam nas aplicações médicas e cosméticas das descobertas de Bader

Saí da sociedade do banco na Europa e coloquei todo o meu dinheiro neste que é o projeto da minha vida”, diz o ex-banqueiro de 44 anos. "É uma oportunidade única ter um negócio financeiramente sustentável e com um propósito."  

Ele conta ter vendido uma casa em Londres e chegou a colocar à venda um segundo imóvel em Paris para investir nas novas empresas. Salvou a residência parisiense por um golpe do destino que o colocou frente a frente com um potencial comprador que se converteu em mais um sócio-investidor.

Ninguém menos que Jacques Veyrat, ex-presidente do grupo Louis Dreyfus, dono de um fundo de investimento em busca de novos negócios. 

"Apresentei o projeto quando ele foi visitar o imóvel e ali mesmo Veyrat decidiu investir US$ 15 milhões e agora colocou mais US$ 5 milhões", relata Rosier, que não precisou vender a segunda casa. 

"Assim como eu, ele acreditou que se tivermos êxito em um negócio com um carma tão bom levaremos ao mundo soluções que não existem.”

As duas empresas já estão avaliadas em mais de US$ 550 milhões. Foi criada também a Fundação Augustinus Bader, voltada para crianças vítimas de queimaduras em países pobres. 

CONEXÃO BRASILEIRA

Quem está à frente do braço social do grupo é uma outra convidada do jantar na Tailândia, a brasileira Consuelo Remmert, que na época namorava Rosier

"Dez por cento dos lucros da marca de cosméticos serão destinados à fundação que vai apoiar pacientes que não podem bancar seus tratamentos", explica Consuelo.

Nascida no Brasil, ela é meia-irmã da ex-primeira dama da França, a atriz e cantora Carla Bruni. 

Carla e Consuelo são filhas do italiano Maurizio  Remmert que adotou o Brasil como segunda pátria. Consuelo viveu até os 11 anos em São Paulo, fala português sem sotaque e fez questão de estar presente na apresentação da  Augustinus Bader na capital paulista.

“Naquele jantar na Tailândia, vi as fotos de meninas queimadas apresentadas pelo professor e como qualquer ser humano, minha reação foi a de pensar que aquilo tinha que estar disponível para o mundo”, afirma.

Aos 39 anos, Consuelo é entusiasta do Cream e do Rich Cream, os dois cremes faciais lançados em fevereiro na Europa, também usado por sua irmã famosa e várias estrelas de Hollywood. 

No Brasil, o representante da marca Augustinus Bader é Damien Loras, ex-cônsul francês em SP. "Estamos buscando parceiros de distribuição no país para este que é um produto revolucionário."  

Loras ainda não tem previsão de quando os cremes estarão à venda no país. Na Europa, cada potinho de 50 ml é comercializado a 225 euros (cerca de R$ 1.000). "Preço equivalente a cosméticos de marcas consagradas, mas que só tratam superficialmente a pele", afirma.  

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