Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Eliane Trindade
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Eleições 2018

'É o povo que está elegendo ele, no WhatsApp', diz líder Bolsolinda

Economista e empresária de moda organizou evento pró-Bolsonaro com belas da alta sociedade de SP

Elas foram batizadas de “Bolsolindas” por Joice Hasselmann (PSL), deputada federal que obteve 1 milhão de votos em São Paulo. Entre as belas da alta sociedade paulistana que adotaram o modelito camiseta amarela com estampa de Jair Bolsonaro está a economista e empresária de moda Dani Carvalho, 42.

“O termo foi uma brincadeira”, diz a organizadora do encontro, ao lado da médica Patricia Gaiotto. Elas conseguiram reunir cerca de 30 mulheres em um restaurante de um amigo de Dani para discutir política e apoiar Joice e o candidato do PSL à presidência da República, em 4 de outubro, antes do primeiro turno das eleições.

Permanecem mobilizadas na campanha, seja em points badalados da noite paulistana, seja em seus perfis no Instagram. E, claro, em seus inúmeros grupos de WhatsApp.

No “get together” da Dani, a futura deputada mais votada do Brasil fez uma fala entusiasmada para saudar o grupo: “Oi pessoal, estou hoje em um compromisso mais do que especial. Eu sou a menina em São Paulo da campanha do Jair Messias Bolsonaro, e estou aqui com as Bolsolindas”. 

Todas aplaudem, gritam Bolsolindas e as mais animadas fazem o gesto com o dedo indicador e o polegar, usado na campanha do presidenciável, simulando uma arma. O vídeo viralizou nas redes sociais. “Mulheres com Bolsonaro, sim! para mudar o Brasil, sim!", encerra a representante do PSL, diante de uma câmera de celular e cercada das também chamadas "BolsoGatas".

A imagem do grupo de belas e milionárias engajadas deu origem a uma infinidade de memes. Turbinou no Instagram o perfil Barbie Fascionista, híbrido de fascista e fashionista, que ultrapassou os 100 mil seguidores. “Pregam tanto por respeito e igualdade, mas perdem tempo caluniando e criando memes de Barbie”, diz um dos posts da blogueira fake que se autodefine como “politizada e do bem” .

Ao disseminar imagens e frases da boneca loura e longilínea, o perfil deixa claro que “contém ironia e glúten”.

Dani condena os rótulos em relação ao grupo de belas pró-Bolsonaro. “Todas estávamos reunidas para discutir o Brasil.” No seu caso, ela diz que o preconceito é por trabalhar com moda. “Não é por ser bonita. Nem me considero rica.”

Entre as convidadas que vestiram as camisetas amarelas com imagem do candidato presenteadas por um amigo advogado de Dani estavam a modelo Cássia Ávila, a empresária Carol Andraus, ex-mulher do ex-senador Gilberto Miranda, e a socialite e empresária Alessandra Campiglia.

Procurada pela Folha,  Le Campiglia não quis falar sobre o engajamento: “Oi querida, não conseguiria fazer esta matéria. Mas obrigada pelo convite”, declinou a socialite por mensagem de WhatsApp.

Ardorosa cabo eleitoral do presidenciável do PSL, Dani aceitou falar sobre o Brasil que ela deseja sob o comando de Bolsonaro e explicar as razões do seu engajamento político.

“Com essa polarização dizem que de um lado tem mulher de axila cabeluda, do outro, as ricas. Querem julgar muito. Das coisas que mais aprendi com a política é que a gente não pode classificar as pessoas. Muitas vezes, a rica já foi muito pobre. A linda também pode se sentir complexada, ter problemas. Todo mundo é igual. A esquerda quer colocar o rico como uma coisa ruim, mas a sociedade precisa de todos os níveis sociais. Se não tiver rico, quem vai dar emprego para o pobre? E a linda, daqui a pouco, envelhece.”

Dani critica classificações, como direita e esquerda, por espalharem o ódio. “Eu sinto isso no Brasil atual", lamenta. Mãe de trigêmeos de 11 anos, ela discorre abaixo sobre alguns dos pontos mais polêmicos do discurso do seu candidato, que lidera as pesquisas neste segundo turno.

NÃO É COLLOR

“Eu resolvi acreditar que, de repente, o Bolsonaro vai ser coisa nova e tirar as coisas erradas, principalmente a corrupção. Não vai ser como o Collor, nem como o Lula, que teve oportunidade de mudar o país e jogou fora. Votei no Aécio. Ele me decepcionou. Tinha obrigação, até pelo sobrenome, mas repetiu tudo do mesmo. Acredito que Bolsonaro seja uma pessoa que vai contra a corrupção, que seja honesto. Mudou muito o Congresso. Está todo mundo mais envolvido, entendendo de política. Apesar desse clima, antes de sermos de esquerda e direita somos brasileiros, queremos o bem do Brasil."

 PRECONCEITO

“Essa coisa de dizer que ele é fascista, racista e homofóbico é pequena diante do que estamos passando. Resolvi acreditar que Bolsonaro vai trazer mudança. Esta semana postei um negócio: Temos que deixar todo esses 'ismos' de lado. O mais importante é acabar com corrupção e ter segurança, para andar na rua e ser mais livre. Tenho filhos, trigêmeos de 11 anos, e quero que eles possam andar na rua, ter a infância parecida com a minha. Sem medo de ir na padaria.” 

 POPULAÇÃO ARMADA

“Bolsonaro é a favor da posse de arma, não do porte. Em casa, com tudo regulamentado. Já tive namorado político que andava armado. Sei que é polêmico. Tem que pensar melhor. No meio da rua, todo mundo armado pode ser perigoso. O policial deve ter o poder de atirar antes de tomar um tiro. Mas tudo dentro da Constituição. Um presidente não aprova tudo sozinho."

​AMIGOS GAY

"Tenho muitos amigos gays e lésbicas, alguns até foram ao nosso evento. Acho maravilhoso ser homossexual. Se quer ser, tudo bem, mas tem que respeitar quem não é. Gays já sofrem preconceito. Falam como se o Brasil fosse o país das maravilhas e o Bolsonaro viesse destruir tudo. Concordo com muito coisa que ele fala. Cota tem de ser para pobre não para negros. Acho também que Bolsonaro já falou muita coisa errada, que até ele mesmo não concorda. Algumas são exagero, mas tem muita coisa editada. Ele é pai de família. Tem um sogro negro, que ele nunca expôs. Dilma, por acaso, fez as mulheres ganharem mais?" 

​DEMOCRACIA X DITADURA

"Participei do Vem Pra Rua. Se Bolsonaro decepcionar, vamos para rua de novo. O Brasil não aceita mais político que não cumpre o que promete. Meus filhos são conscientes. São Bolsonaro. Antigamente, a gente ia votar com uma cola. Hoje todo mundo entende muito mais. Ele não tem como ameaçar a democracia, que já está instituída na vida da gente. É o povo que está elegendo ele, no WhatsApp."

POLARIZAÇÃO

“A esquerda é muito agressiva. Recebo muita coisa pelo WhatsApp. Comecei essa coisa de política e estou em uns dez grupos. Quando você está na linha frente, está sujeita a receber os primeiros tiros. Na minha separação, eu já provei que sou mulher decidida, que toma partido da sua vida. Passo muita informação, as pessoas sabem que estou engajada. Sempre gostei de expor minha opinião. Fiz economia."

MAIS TOLERÂNCIA 

As Bolsolindas prometem estar ativas no WhatsApp e nas ruas até domingo. “Senti que ele já ganhou, mas tem sempre uma pontinha de medo”, diz a líder. “Tem muita fake news, o que deixa a gente confusa.” 

Sobre a reportagem da Folha que denunciou empresários que bancaram a disseminação de notícias contra o PT, ela se esquivou. “Eu não tenho opinião sobre isso.”

E prega mais tolerância. “Minha crítica como brasileira e ser humano é que não se pode agredir o próximo quando for falar do seu candidato.”

Ela dá o próprio exemplo no último final de semana, quando foi almoçar no Bixiga e deu de cara com a gravação do clipe de Ana Cañas. A cantora é eleitora declarada de Fernando Haddad e do PT. “Adoro a música dela. Não importa se é petista. Conheci ela, adorei."

Após postar o encontro inesperado no stories do Instragram, ela diz ter sido bombardeada por fogo amigo das demais Bolsolindas. “Mudou de partido?” Sua resposta foi sempre a mesma: “Ela vai ser sempre boa cantora independentemente do voto”.

A  líder das Bolsolindas tomou tanto gostou pela política, que não descarta a possibilidade de um dia se candidatar: “A gente nunca sabe, né?".

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