Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Renasce em livro garoto que fez da luta contra câncer saga de heróis

Mateus Valezin escreveu "A Princesa Medula" durante tratamento; família faz campanha para publicar obra póstuma

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Era uma vez um garotinho que adorava super-heróis e Star Wars e, certo dia, começou uma aventura ao lado de uma princesa inusitada: a medula óssea.

 
Assim tem início a saga pelo mundo das letras protagonizada por Mateus Valezin Padetti, coautor de “A Princesa Medula”.
 
Mas o livro infantil, que está pronto para ser publicado, não tem o final feliz dos filmes de ação nem dos conto de fadas. 

A obra póstuma é o testamento de fé de uma criança e de uma família que lidaram de forma lúdica com o câncer infantil.

Os Valezin se confrontaram com um desfecho triste, a morte do autor mirim em junho de 2019, aos 7 anos, após se submeter a um transplante, última esperança de cura para Mateus. O livro infantil está no prelo para ser lançado.

É o resgate da memória da luta de quatro anos contra a leucemia empreendida por um menino valente e especial. “Publicar o livro é uma forma de a gente não esquecer o que ele fez e de sensibilizar e informar outras famílias”, diz a mãe, Carla Valezin, emocionada.

Em meio ao luto, ela contou com a ajuda de dois amigos para transformar em literatura e ilustrações os contos ditados pelo filho no leito do hospital.

A narrativa inicial foi dada pela mãe, uma educadora, que assim preparava o filho para encarar um longo e doloroso tratamento.

"Era uma vez um reino distante, onde todos eram felizes... Mas um dia foi atacado e a princesa Medula foi sequestrada. Então, o rei escalou seu mais nobre herói para convocar guerreiros que pudessem recuperá-la."

Foram longos períodos de internação, quimioterapias, transfusões de sangue e exames sem fim. Nos intervalos, a história real e a heroica iam se mesclando e ganhando novos contornos.

Por meio dessa verdadeira liga de heróis da ficção e do cotidiano foi realizado o sonho de Mateus de conhecer um dos Power Rangers, realizado pela Make a Wish com colaboração do ator Peter Adrian. O astro indonésio fez uma rasante no hospital para ver o garoto brasileiro. 

A mãe conta que colocava retratos dos Powers Rangerse do Incrível Hulk em cima dos medicamentos da quimioterapia que eram ministrados no corpo frágil do filho.

“Era uma forma de dizer que ele estava recebendo superpoderes para lutar contra esses blastos feios que destruíam a medula dele”, relata Carla. 

A mãe explicava ao filho que a leucemia fazia com que sua medula produzisse sangue errado e a quimio era importante aliada para vencer “os monstros”, os tais blastos,

Após um segundo tratamento quimioterápico e uma recidiva do câncer, Mateus entrou na fila para um transplante de medula, esperança de cura.

É quando o universo dos super-heróis entrou em campo novamente para tornar menos angustiante a espera por um doador compatível.

Era preciso recrutar um exército do bem (doadores de sangue, medula e plaquetas), para recuperar a paz no reino onde se travava a batalha de vida ou morte: o organismo de Mateus. 

A página de Super Mateus no Facebook mobilizou milhares de pessoas e escoteiros, já que se tratava de um Lobinho. Mas ao final, sem mais tempo para espera, a doadora foi a própria mãe, que era 50% compatível com o filho. 

“O livro pretende confortar crianças e incentivar adultos a se cadastrarem como doadores de medula e se tornarem doadores de sangue com frequência”, explica Carla. 

A proposta do livro, que depende de uma campanha de financiamento coletivo, é levar a crianças em tratamento de leucemia informações sobre a doença da mesma forma mais lúdica, como os Valezin a encararam desde quando Mateus recebeu o diagnóstico aos 3 anos de idade. 

A edição de 5.000 exemplares está orçada em R$ 60 mil, mesmo valor da campanha de crowdfunding no site Benfeitoria, acessando este link

O financiamento coletivo da obra foi aberto em 23 de janeiro, data de aniversário de Mateus, e vai durar dois meses. 

“Contamos com apoio de doadores para fazer o livro chegar às crianças que estão passando por tratamentos de câncer em hospitais pelo Brasil”, diz a mãe. A data final para contribuir com a campanha é 23 de março. 

A ideia é distribuir "A Princesa Medula" em hospitais e casas de apoio a pacientes com câncer infantil. “Mateus queria fazer o livro chegar a crianças como ele, carecas.”

Elas vão conhecer também a curta e especial biografia do autor, que ocupa duas das 20 páginas do livreto. 

É a mãe quem escreve sobre o filho, no presente e no passado: “Mateus é um menino curioso, criativo, falante, que queria ser youtuber, amava Star Wars, heróis, videogame. Gostava das coisas organizadas, era amoroso, corajoso e às vezes, impaciente e ansioso, como qualquer criança". 

O livro vai transmitir a imagem de um menino sorridente que inventava músicas, histórias e que gostava de festas. "E adorava a nossa família, formada pelo núcleo de sangue e por todos agregados, sabendo que o que importa mesmo é o amor que nos une."

Um sentimento que renasce num futuro não muito distante em uma obra cujo autor virou letrinhas. 

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