Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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A saga de fazer um prêmio em 'hell office' em jornada 100% virtual

O Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19 é fruto do trabalho de uma equipe e parceiros comprometidos com premiação que faz história há 16 anos

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A atriz e a produtora Maria Gal, o colunista da Folha Zeca Camargo e a editora do Empreendedor Social da Folha, Eliane Trindade, durante o webinário de premiação do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19

A atriz e a produtora Maria Gal, o colunista da Folha Zeca Camarg e a editora do Empreendedor Social da Folha, Eliane Trindade, durante o webinário de premiação do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19 Gabriel Cabral/Folhapress

O videoclipe com imagens dos Empreendedores Sociais do Ano recebendo em casa seus certificados de destaques do ano na resposta à Covid-19 é a melhor síntese do que foi a edição especial do prêmio neste ano da graça de 2020.

Às 19h20 da segunda-feira (7), o clipe de menos de dois minutos encerrou a cerimônia virtual de premiação, fechando ali um ano que parece ter terminado faz tempo por ordem de sua majestade o coronavírus, mas que a humanidade continua contando até o próximo dia 31.

Ainda no palco de um auditório da Folha vazio, como mandam os protocolos sanitários, estou fora do esquadro das câmeras da transmissão ao vivo, após 2 horas e 20 minutos de evento.

Já posso chorar. Um choro de emoção, exaustão, alegria. Silencioso e reparador.

O gatilho é a energia que emana da tela: a colagem de imagens de premiados de diferentes pontos do país. De Manaus ao Vale do Jequitinhonha, em Minas; do Ceará à zona rural da Quatinga, no Cinturão Verde da Grande São Paulo. Da Faria Lima a Paraisópolis.

A alegria de ver tanta diversidade nas faces sorridentes e emocionadas de gente que faz diferença numa pandemia que nos testa a cada dia, como pessoas, sociedade, nação e planeta.

Do índio à vice-presidente de banco. Das poderosas mulheres negras das favelas ao ex-aluno de Harvard. Do startupeiro ao ongueiro famoso; de voluntários a intraempreendedores.

A entrega das caixas contendo envelopes com os 80 certificados nas casa dos líderes de 30 iniciativas premiadas foi apenas mais uma logística complexa para fazer acontecer uma premiação que nasceu mais austera, condizente com o momento de crise e luto.

E assim foi. Sem coquetéis, shows e tapete vermelho. A celebração foi de outra ordem. Espalhada por diferentes pontos do país, em uma live, outro fenômeno da pandemia do século 21.

O mundo mudou, nós mudamos, o prêmio também mudou. Em vez de botar o pé na estrada para as diligências de Norte a Sul do país, como sempre fizemos, as viagens foram todas virtuais.

De zoom em zoom, de meet em meet, em diferentes plataformas de videochamadas, lá estávamos nós. O diretor de fotografia, Renato Stockler, parceiro de tantos perrengues e alegrias Brasil afora tinha o desafio de captar vídeos e fotos remotamente.

O caderno especial de 24 páginas também nascia de um trabalho remoto de uma equipe guerreira e comprometida.

Time titular formado pelo incansável Cristiano Cipriano Pombo, profissional experiente incorporado por alguns meses à editoria do Empreendedor Social. Braço-direito no processo de avaliação, craque das planilhas e suporte na reportagem e edição.

Uma equipe que contou com duas repórteres, uma free-lancer contratada por dois meses e meio, e a estagiária Giovanna Reis. Uma ex-trainee que chegou pronta, com texto e apuração primorosos, e uma mascote no jornalismo, que já faz um trabalho de gente grande.

“Vamos no meet?” Era a senha para nossas reuniões diária para organizar a cobertura, fechar planilhas e ir tirando da frente uma enormidade de tarefas cotidianas.

Era preciso pautar 60 reportagens —30 perfis dos finalistas e 30 matérias sobre o impacto de cada iniciativa, mobilizando repórteres de outras editoriais e free-lancers. Era preciso preparar o site, subir fotos, fazer galerias de imagens, encaminhar os vídeos para TV Folha.

Em paralelo, eu organizava a cerimônia virtual, convidando mestres de cerimônias e cuidando de uma série infindável de detalhes - do carro para buscar os apresentadores à aprovação do backdrop; E havia ainda a campanha de lançamento, as reportagens, a edição, o roteiro do evento.

Um sem-fim de tarefas a serem executadas para o reconhecimento a brasileiros que chamaram para si a missão de levar ajuda emergencial e mitigar os impactos negativos da Covid-19 no país. Tarefa infinitamente maior.

E uma missão que se renova diante de uma crise social, econômica e sanitária longe do fim. Vide a segunda onda da doença, o fim do auxílio emergencial e as incertezas da ausência de um plano nacional consistente de vacinação.

Desafios aos quais os premiados deste ano estão mais do que acostumados a superar em suas trajetórias de gerar impacto positivo nas suas comunidades e no país.

Por isso, foram reconhecidos em um prêmio que saiu de uma lógica de competição, de eleger vencedores, para a da colaboração, entregando a todos os finalistas seus troféus nesta maratona de longa distância patrocinada pelo novo coronavírus.

Este pelotão da frente sabe que é longa a corrida contra a desigualdade, o descaso, o estresse no sistema de saúde, a precariedade do ensino à distância, o desemprego e a fome.

Esta coluna de balanço é também de agradecimento a todos e a cada um. A seguir o resumo e o link dos 30 homenageados nas três categorias.

AJUDA HUMANITÁRIA

As Top 10 iniciativas que se destacaram no socorro emergencial às populações mais vulneráveis do país somam quase 30 milhões de brasileiros diretamente impactados.

É um esforço sem precedentes de ONGs, movimentos, coletivos e fundos que se mobilizaram para responder à emergência sanitária, atendendo mães em favelas, catadores, moradores de rua.

A categoria reconhece o papel fundamental de organizações de alcance nacional como a Cufa, que mobilizou R$ 170 milhões em recursos.

E destaca também ações comunitárias como a das jogadoras de versos do Vale do Jequitinhonha (MG), que levantaram R$ 110 mil com venda de poesia para alimentar e gerar renda em oito comunidades rurais e quilombolas.

No conjunto de iniciativas há lideranças históricas, como o herdeiro de Herbert de Souza, o Betinho, à frente da Ação Contra o Corona, e emergentes, como voluntários que criaram o União BR, teia de solidariedade em 22 estados.

São premiados o artista que garante renda a catadores e a assistente social que coordena médicos e agentes de saúde no Consultório na Rua.

Gerações distintas de empreendedores sociais chamaram para si a missão de ajudar a quem mais precisa na pandemia. Do jovem Kdu dos Anjos com sua Frente Humanitária que alimentou 70 mil pessoas ao veterano Eugênio Scannavino, do Saúde & Alegria, que protegeu os povos da floresta do vírus, são vários os líderes que fizeram a diferença contra a doença.

A sociedade civil organizada se mostrou capaz de socorrer em tempo recorde os morros, periferias, indígenas e quilombolas.

União que fez a força do Fundo Estamos Nessa Juntos no financiamento a ONGs. Sensibilidade que deu o tom no projeto Conexões do Cuidar, ao amenizar a solidão de pacientes da Covid-19 isolados em hospitais por todo o país.

MITIGAÇÃO DA COVID-19

A pandemia acelerou o uso de tecnologia e abriu espaço para maior aceitação da telemedicina, fazendo com que startups como a Vitalk ganhassem escala, ao fornecer serviços para o Ministério da Saúde. Seus robôs fizeram a triagem de casos de Covid-19.

Ao mesmo tempo, carretas de saúde chegavam a comunidades desassistidas.

Paraisópolis não foi uma delas graças aos presidentes de rua e ao socorro estruturado a doentes e desempregados sob a batuta de Gilson Rodrigues, na favela que virou exemplo na crise sanitária.

Assim como os lavatórios comunitários da Florescer Brasil, que tornaram possível lavar as mãos, medida simples e eficaz contra o coronavírus.

A mitigação da Covid-19 veio também pelo empenho de especialistas, como os médicos da ONG Expedicionários da Saúde, e os engenheiros e técnicos da iniciativa + Manutenção de Respiradores.

Exemplos de como montar com rapidez e eficiência uma enfermaria na selva ou polos de recuperação de equipamentos vitais contra a doença.

Também se multiplicaram na pandemia oficinas e mutirões de fabricação de máscaras, acessório de proteção barato e eficiente para barrar a disseminação do vírus.

Heróis Usam Máscaras operou na lógica de geração de renda, enquanto Humanizando a Pena, Protegendo a Vida estruturou oficinas de costura em presídios humanizados.

Levantar recursos e doações foi outra forma de mitigar os impactos da pandemia. Seja nas periferias, com o Matchfunding Enfrente, ou para o fortalecimento do SUS. O Fundo Emergencial para a Saúde carreou recursos para hospitais filantrópicos e públicos.

Premiados que impactaram a vida de milhões de brasileiros com respostas imediatas.

LEGADO PÓS-PANDEMIA

Ao forçar o mundo a enxergar desigualdades, somada ao fato de que a humanidade está conectada para o bem e para o mal, a pandemia se converteu em aceleradora de futuros.

Neste planeta do “novo normal”, a tecnologia é aliada da educação a distância, contingência que fez startups de impacto social como Árvore e Movva ganharem escala.

A categoria Legado Pós-Pandemia reconhece iniciativas que viram na crise sanitária oportunidade para influenciar políticas públicas, como Regina Esteves, na lógica da governança público-privada, e Eliana Sousa, da Maré Diz Não ao Coronavírus, ao desenhar ações estruturantes em meio à crise no maior complexo de favelas do Rio de Janeiro.

O aporte histórico do Itaú Unibanco de R$ 1 bilhão para o fundo Todos pela Saúde deixa legados como duas centrais de testagem, ferramentas de gestão hospitalar e um modelo estratégico de intervenção, o mesmo olhar que norteou o Fundo Volta por Cima, focado no socorro a empreendedores na periferia, com capital filantrópico e sem juros.

Como foi estratégico criar o aplicativo Alerta Indígena para monitorar casos de Covid-19 entre povos da floresta, confrontando dados oficiais e fortalecendo lideranças.

Assim como o papel claro de uma pequena produtora do cinturão verde de SP, ao criar uma iniciativa que evitou desperdício no campo e alimentou milhares de famílias.

A resposta à crise exigiu inovação como as cestas digitais do Corona no Paredão e o Favela Inteligente, iniciativas desenvolvidas por Edu Lyra, da Gerando Falcões, para atender aos mais vulneráveis.
Com igual rapidez, a Rede de Bancos Comunitários Digitais adaptou sua plataforma E-dinheiro para salvar vidas e a economia dos pequenos.

Um resumo das TOP 30 iniciativas sociais que simbolizam um Brasil empreendedor, resiliente e solidário.

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