Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Glamour e faxina na trajetória da brasileira casada com astro de Hollywood

A mineira Camila Alves e ator Matthew McConaughey protagonizam um conto de fadas moderno desde o começo da relação em um trailer ao tapete vermelho do Oscar

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Camila Alves em viagem de férias sozinha pelo deserto de Utah e Arizona Acervo pessoal

A cena do primeiro encontro da modelo Camila Alves, 38, com o ator Matthew McConaughey, 51, poderia estar em um roteiro das comédias românticas que o projetaram à fama em Hollywood.

Há 16 anos, a brasileira e o astro de "Como Perder um Homem em 10 Dias" se conheceram em um bar badalado de Los Angeles, onde ela participava de uma confraternização a convite de Gianni Nunnari, produtor de sucessos como "300" e "Seven".

Ao tentar descolar uma água, ela se irritou com um cara de boina e barba que monopolizava a atenção do barman e destoava do ambiente sofisticado de short e chinelos.

Logo descobriu se tratar do galã, ao vê-lo rodeado de mulheres junto com Lance Armstrong, ciclista que venceu sete vezes o Tour de France e foi banido do esporte por dopping.

"Os dois estavam em todas as revistas", lembra a brasileira. "Peguei minha água e me sentei de costas para a mesa deles."

Camila havia acabado um relacionamento com um cantor e não queria saber de envolvimento com ninguém do showbiz.

Ignorou acenos para se sentar com o astro. Até que McConaughey foi puxar conversa com a morena arredia. O papo só foi interrompido quando Lance chamou o amigo para ir embora.

O galã pediu cinco minutos para convencê-la a acompanhá-los para uma festa. "Descobri no caminho que estávamos indo pra casa dele", recorda-se Camila, na época com 21 anos.

Nascida em Belo Horizonte, ela se mudou para Los Angeles prestes a completar 16 anos para tentar a sorte como modelo, influenciada por uma tia que vivia nos Estados Unidos.

Como não falava inglês, matriculou-se em um curso noturno para imigrantes e fazia bicos para se manter.

"Cresci numa família de classe média e meu pai falava que eu tinha de saber cuidar de uma casa. Fui fazer limpeza já que não precisava do idioma."

As patroas se surpreendiam ao ver a serviçal com porte de modelo terminar a faxina e pegar carona com o namorado da época, dono de um possante que poderia estar na garagem da mansão que limpara.

"O carrão é dele, não meu", respondia a brasileira, que também foi garçonete.

Não caiu na tentação de aceitar o pedido de casamento do tal músico. Martelava na cabeça os conselhos paternos, do compêndio de uma conservadora família mineira. "Mulher que se casa por interesse e não por amor é prostituta de luxo."

Mesmo na meca do cinema e vivendo temporadas em Nova York, na Itália e em Israel, Camila se comportava mais como uma moça de Itambacuri (MG), município de 23 mil habitantes no vale do Rio Doce, onde passava férias na fazenda do pai e dos avós.

"Sou bem mineira. Cresci com aquela moral de cidade pequena. Nunca fui pra casa de ninguém que paquerei na primeira noite."

Diz que ficou em pânico ao quebrar a regra com McConaughey. Após minutos na residência, Camila pediu para ele chamar um táxi.

Era um fim de noite surreal, já que a caminho do bar sofrera um acidente. "Eu morava a uma de hora de Hollywood. Meu carro foi atingido do nada quando parei num cruzamento."

Sentada no meio-fio, enquanto o polícial registrava a ocorrência, ela estava decidia a voltar para casa.

Lembrou-se de um conselho de uma amiga: "Quando acontecer uma coisa negativa, acione sua intuição para entender se era para te proteger de algo pior ou te impedir de chegar aonde tem de chegar".

Intuiu que era a segunda opção e seguiu com o veículo amassado. "Meu carro estava tão detonado que o manobrista não quis pegá-lo." Estacionou em um posto de gasolina.

Enquanto era paquerada pelo solteirão mais cobiçado de Hollywood naquela noite, o carro foi guinchado.

Com tantos imprevistos, a brasileira aceitou passar a noite na casa do ator. "Ele me levou para o quarto de hóspedes e eu dormi de roupa com medo de que voltasse."

Pela manhã, McConaughey se ofereceu para acompanhá-la para liberar o carro apreendido.

"Era horário de rush, levamos três horas para chegar", relata Camila. "Quando foi dar tchau, ele pediu o meu telefone e me deu um selinho."

O ex de Sandra Bullock ligou na mesma noite. "Era aniversário do meu pai e não aceitei o convite para jantar. Nos encontramos no dia seguinte e a nossa história foi evoluindo."

Ao contrário da carreira de modelo que não decolava. "Nunca fui top model", admite. Camila bateu de porta em porta das principais agências de Nova York quando concluiu que o mercado em Los Angeles não era muito sério.

Chegou a ter um vínculo com a Elite, agência de John Casablancas. "Eles fizeram meu visto de trabalho, mas me desrespeitaram. Não aceitei as regras e saí."

Ouviu um monte de não até ser contratada pela Major Models no périplo por Manhattan. Uma vaquinha feita pelos donos e clientes do restaurante italiano onde trabalhava bancou a mudança em busca do sonho de estourar como modelo nos EUA.

"Não foi uma carreira fácil. Não sou negra de pele escura nem branca. Não cabia em um rótulo, por isso não sabiam o que fazer comigo", relata. O casting pedia negras, lá ía Camila. Se era para indianas ou latinas, mandavam ela também. "Tinha de correr atrás."

Aos 19 anos, emplacou uma campanha de moda em um outdoor na Times Square em pleno Ano Novo. A imagem apareceu na TV no Brasil para emoção dos pais.

Depois de alguns anos modelando pelo mundo, Camila voltou para Los Angeles para montar um negócio de bolsas com a mãe, quando seu destino se cruzou com o ator que desfilara com beldades como Penélope Cruz.

Quando a relação começou a ficar mais séria, ela se desfez do apartamento em Nova York e McConaughey vendeu a casa em Hollywood.

"Ficamos namorando um tempo sem ninguém saber", conta a brasileira que topou ir morar em um trailer. "A gente se liberou de coisas materiais, vivendo só com o que precisava."

Depois de um tempo, foram morar em uma casa móvel mais estruturada. "Foi nesse momento que a gente decidiu construir uma família."

Em junho de 2012, oficializaram a união, quando já eram pais de Levi, 13, e Vida, 11. Livingston, 8, nasceu seis meses depois do casamento. Moram oficialmente em Austin, no Texas, terra natal do ator, mas adotam um estilo meio cigano.

"Brinco que somos uma família de circo. Onde Matthew vai trabalhar, qualquer que seja o projeto, vamos todos juntos."

De set em set, os McConaughey já passaram temporadas na Inglaterra, no Canadá, na África do Sul e nas Ilhas Maurício. "As pessoas acham que é super glamouroso. Não é sempre assim. Tem locações que são no meio do nada", diz Camila.

À medida que as crianças cresciam, optaram por um esquema de educação à distância. "Fazemos homeschooling há muitos anos."

O destino mais exótico foi a Tailândia, nas filmagens de "Bold". Em entrevista no lançamento do longa, o ator agradeceu à mulher por "desenraizar tudo" e cuidar da prole para que pudesse mergulhar no personagem.

A família influenciou na mudança de rota da carreira do ator. "O primeiro passo foi parar de fazer comédias românticas. Matthew ficou sem atuar por muito tempo, até que os trabalhos certos começaram a vir", resume Camila.

Em 2013, o drama "Clube de Compras Dallas" rendeu o Oscar de melhor ator para o marido da brasileira por sua performance na pele de um eletricista machão diagnosticado com Aids que contrabandeava medicamentos alternativos para distribuir a pacientes no Texas.

Um outro marco foi a autobiografia "Greenlights", que ocupa as primeiras posições entre best-sellers do New York Times. "Praticamente coloquei Matthew pra fora de casa e ele ficou sozinho no deserto para escrever, começando essa jornada de escritor", conta Camila.

Ela também optou pela solidão do deserto entre Utah e Arizona, em maio, quando falou por videoconferência com a Folha. "Estou neste momento viajando sozinha. Dirigi sete horas, acampei. É a primeira vez em dez anos que tiro um tempo pra mim. Precisava me conectar comigo mesma para ser a melhor mãe e parceira."

Camila lançou o movimento Women of Today, plataforma que promove eventos para troca de experiência entre mulheres. É sócia de uma empresa de alimentação saudável para bebês.

O casal é mantenedor da fundação Just Keep Livin, que desenvolve programas no contra-turno escolar para estudantes de áreas vulneráveis.

Na pandemia, eles fizeram grandes doações de máscaras e alimentos nos Estados Unidos e no Brasil. Camila escolheu apoiar a campanha Dias Melhores e outras ações de enfrentamento à Covid-19 em Minas Gerais.

Em meio ao caos sanitário, o ator mandou um recado aos brasileiros: "Mantenham-se firmes. Todos nós vamos sair disso, com uma grande luz verde saindo dessa luz vermelha que estamos enfrentando. Cuidem-se."

Os McConaughey passaram a maior parte da quarentena em Austin. O período de isolamento foi levado a sério. Camila aparece em vídeos no Instagram, onde tem 820 mil seguidores, fazendo as unhas e pintando os cabelos da sogra Kay, 89.

O ator mantem proximidade com os parentes brasileiros. "Matthew é texano, adora ficar na fazenda do meu pai, mostrando aos meninos como se tira leite, montando a cavalo", relata o cunhado Bruno Alves, 42, sócio de uma fábrica de pão de queijo para o deleite dos sobrinhos.

O ator costuma ir de jato privado até Teófilo Otoni e de lá, em 15 minutos de carro, chega a Itambacuri.

"Ficamos em família em Belo Horizonte e na fazenda no interior de Minas, mas também levei Matthew para meu lugar favorito, a Bahia", diz Camila. No Carnaval de 2009, o ator assistiu o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro em um camarote VIP.

Assim que as fronteiras forem reabertas pós-pandemia, os Alves e os McConaughey devem se encontrar na nova casa do casal no Havaí.

Bem longe dos holofotes e de especulações sobre o ator figurar na lista de possíveis candidatos a governador do Texas. E o que Camila acha de virar primeira-dama? "Não é um sonho meu, mas uma coisa que aprendi na minha jornada é que nada é impossível."

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