Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Mila Moreira morreu como viveu: após festa e antes de desfile e viagem

A atriz de 75 anos sofreu um mal súbito, quando se preparava para ser homenageada por estilista belga em SP e passar o Réveillon em Nova York

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Nesta terça-feira (7), Mila Moreira ia subir na passarela do belga Thomas Durin, estilista da marca Van M, que traz a São Paulo sua coleção Sereias, inspirada nas belezas naturais do Brasil.

"Ela é maravilhosa, quero homenageá-la", disse o estilista ao fechar o casting e escolher a atriz de 75 anos para vestir uma de suas criações, que evocam um mundo imaginário e feminino com elementos do folclore brasileiro.

O evento de moda e o Brasil perderam na madrugada desta segunda-feira (6) a presença sempre glamourosa da ex-miss e modelo que ao longo de mais de cinco décadas frequentou a sala VIP do planeta.

A paulistana que subiu à passarela pela primeira vez aos 14 anos morreu após dar entrada no hospital CopaStar, na zona sul do Rio de Janeiro, de um mal súbito.

"Ela morreu como viveu, sempre glamourosa", afirma, emocionada, a dramaturga Maria Adelaide Amaral, sobre a atriz e amiga que escalou para quase todas as suas novelas na Rede Globo.

"Mila queria ter uma morte assim, súbita, com a agenda cheia de compromissos. Ela passou mal em uma festa chiquérrima em Paraty no sábado e estava com viagem marcada para Nova York nesta quarta", relata Adelaide, companheira de trabalho e também de inúmeras viagens.

"Ela tinha amigos em todos os lugares do mundo. Era a pobre mais rica do planeta. Era sempre convidada para tudo por amigos generosos. Todo mundo queria tê-la por perto. Mila era indispensável. Bonita, divertida, inteligente, sempre com uma resposta rápida, certeira", afirma a dramaturga, uma amiga da vida inteira desde que se conheceram na época da novela "Meu Bem, Meu Mal".

Depois do desfile em São Paulo, Mila embarcaria para os Estados Unidos, onde iria passar o Natal e o Réveillon com amigos.

Nas ruas de Manhattan ou Paris, nas vielas da Grécia ou em um restaurante badalado de Punta del Este, era sempre reconhecida pelas personagens marcantes, sempre mulheres chiques e inteligentes, desde o debute em "Marrom Glacê", em 1979, na Rede Globo.

"Descobri uma profissão que era para a vida. Pode ser avó, tataravó, morta [risos]", disse Mila, em entrevista para a coluna Rede Social, em 2016, ao completar 70 anos. "Quando virei atriz, todo mundo criticava. Houve muito preconceito dos colegas. Achavam que eu era caso do Cassiano [Gabus Mendes]."

Era grata a Fernanda Montenegro e a Sonia Braga, duas estrelas que a receberam com generosidade. Já era modelo famosa no Brasil, foi contratada por muitos anos pela Rhodia, e também internacionalmente. É da mesma geração de Dalma Calado, dupla famosa antes do fenômeno das tops models.

Protagonizou uma vida amorosa intensa. "Tive grandes paixões. No auge da Bossa Nova, namorei com Ronaldo Bôscoli, logo depois de me separar do Lívio [Rangan, italiano]. Com o Gracindo Júnior, durante a novela, foi uma loucura", recordou-se ela, ao preferir se calar sobre outros.

"Tenho muita história para contar, os casos engraçados e os picantes. Só que teria que dar nomes aos bois. E eles são conhecidos [risos]. Não se pode falar publicamente [dos casos] sem que o outro concorde sobre revelar o que acontece entre um casal. Não tem graça contar sem dar nomes."

Elegante até o fim, ela viveu um amor maduro, com o chef francês que morreu em janeiro de 2019. Em meio à pandemia, perdeu a irmã, após uma longa doença. "Ela não queria ficar em cima da cama como a mãe e a irmã, dando trabalho. Queria ser a alegria e não peso para ninguém", diz Adelaide.

Tive a sorte de ser amiga de Mila Moreira. Tínhamos um encontro marcado nesta terça. "Muita saudade de um bom papo! Oba!", escreveu ela na nossa última troca de mensagens pelo WhatsApp na semana passada.

E encontrar com Mila era a certeza de muitas risadas e relatos de uma vida rica e povoada de amores e amigos em diferentes latitudes.

"Eu tenho alegria de viver, é isso que me faz jovem. Desfruto da vida. A minha sempre foi super rica e alegre. Foi, é e será.", disse-me ela ao encerrar a entrevista, em uma conversa que se estendeu tarde adentro, depois de um almoço em um restaurante no Rio de Janeiro há cinco anos. "Gosto de estar viva."

Enfim, ótimos papos regados a bons vinhos, duetos de canções italianas na cozinha, um Réveillon compartilhado com amigos queridos são memórias que tornam a escrita deste obituário oscilar entre lágrimas e risos. Lembranças de uma atriz que foi também protagonista de uma vida excepcional.

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