Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Eliane Trindade

'Bolsolindas' se calam e 'neolulistas' alardeiam voto em 2022

Entre ricas e belas da elite paulistana, adeptas do PT saem do armário, enquanto apoiadoras de Bolsonaro adotam estilo low-profile

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São Paulo

As "bolsolindas", como ficaram conhecidas belas e ricas paulistanas que apoiaram Jair Bolsonaro na campanha de 2018, adotaram um estilo low-profile no pleito deste ano.

"Não vou falar de política", disse a ex-modelo Cássia Ávila, ao ser indagada pela Folha, via WhatsApp, sobre seu posicionamento nesta eleição. A socialite Alessandra Campiglia também optou pelo silêncio em 2022.

Em 2018, as duas posaram ao lado de 17 amigas vestidas de camiseta amarela com a face de Bolsonaro estampada, em evento de apoio à candidatura do então candidato do PSL. A imagem das também chamadas "bolsogatas" viralizou nas redes sociais.

A líder do grupo, a empresária Danielle Carvalho, que falou longamente em 2018 sobre suas expectativas de um governo Bolsonaro, visualizou novo pedido de entrevista, mas não respondeu. Suas postagens no Instagram, recheadas de belos momentos das férias na Grécia, passam ao largo da política nacional neste ano.

Uma das convidadas do "get together" de 2018, a empresária Carolina Andraus diz que não foi ao jantar para apoiar Bolsonaro, mas para ouvir as propostas de Joice Hasselmann, então candidata a deputada federal.

Agora em 2022, a ex-executiva do mercado financeiro formada pela FGV e com especialização em Harvard não vai declarar voto nem em Bolsonaro, nem em Lula, nem na terceira via.

"Meu posicionamento é pelo Brasil, pelo crescimento econômico, pela educação e saúde de qualidade, pela segurança, pela diminuição da pobreza, pela geração de empregos e pelo fim da corrupção."

Carol foi casada com o ex-senador Gilberto Miranda, a quem acusa na Justiça de ter ficado com parte da fortuna que construíram enquanto sócios.

A empresária Carolina Andraus não pretende declarar voto nas eleições de 2022 - Zanone Fraissat/Folhapress

"Independentemente de quem ganhe essa eleição o importante é cobrar resultados e vigiar constantemente os nossos governantes para que eles sirvam ao país e não a interesses próprios."

Nesta reta final da campanha 2022, nos perfis nas redes sociais das antes engajadas eleitoras de quatro anos atrás nem parece véspera de eleição.

"As bolsolindas sumiram. Ninguém posta mais nada. Desta vez, é um voto envergonhado", diz uma outra empresária, moradora da Vila Nova Conceição e frequentadora do circuito Fazenda Boa Vista e Fasano.

Lulista assumida nessas rodas requintadas, ela diz que é questionada pelas amigas bolsolindas de como "pode votar em um ladrão e a favor da corrupção".

São ignorados argumentos de que os processos contra o candidato petistas foram anulados pela Justiça, enquanto Bolsonaro e família estão sendo investigados pelo esquema das "rachadinhas".

O voto em Bolsonaro, no caso, seria pragmático. "Não é mais pelo Bozo, mas pelo bolso", continua a eleitora de Lula, fazendo trocadilho com um dos apelidos do atual presidente. "Os maridos, muitos do mercado financeiro, estão ganhando dinheiro com esse governo."

Em viagem pela Europa, ela promete retornar no sábado (1º) para "apertar o 13 com gosto" na urna eletrônica no domingo (2).

Opção também de Rosangela Lyra, ex-diretora da Dior no Brasil e hoje presidente do Instituto Política Viva.

Ela, que foi defensora de primeira hora da Operação Lava Jato, declarou voto ao petista no começo desse ano, puxando a fila da "turma de ativistas, não exatamente contra o PT, mas contra a nossa cultura arraigada de corrupção".

"Infelizmente, no meu meio social ainda tem muitos bolsonaristas. Eles, como eu, foram intensamente bombardeados e submetidos a muitas falácias", diz ela, que também é ex-sogra do jogador Kaká.

Rosangela critica o fato de os defensores ferrenhos do bolsonarismo continuarem se alimentando de blogs e memes que semeiam desinformação. "Não evoluíram nesses quatro anos. Os argumentos são bobos, parecem da 5ª série."

Cita o exemplo de uma troca de mensagens em um dos seus grupos de WhatsApp nesta semana, quando seu voto no PT foi atacado. "Ficaram 16 anos no poder e nada fizeram pela educação", escreveu uma eleitora de Bolsonaro.

O então presidenciável Flavio Rocha, dono da Riachuelo e antipetista, participa de bate-papo promovido por Rosangela Lyra, em 2018 - Marlene Bergamo/Folhapress

Rosangela rebateu, corrigindo que foram 13 anos de governos petistas e citou programas como Prouni, criados no período.

Ela acredita não pregar no deserto. "Caso contrário, teria de começar novo círculo de amigas. Ainda bem que tenho novas e antigas que vieram para o lado certo da História e da verdade."

Karina Arruda, 44, dona de uma consultoria em inovação, viu a transformação do posicionamento político da amiga Rosangela e também se coloca publicamente.

"Eu vou votar no Lula porque é estar do lado civilizatório", afirma a empresária que se posiciona como centro-esquerda e "militante do Brasil".

Segundo ela, não se trata de debate ideológico. "Não acredito na ideologia do PT, mas estou votando na esperança de que Lula vá reconstruir o país. Não existe desenvolvimento econômico sem desenvolvimento social."

Karina morou seis anos na Europa, de 2009 a 2014, quando vivenciou o boom positivo da imagem do Brasil lá fora. "Eu vi como estávamos valorizados", relata, em contraponto à crise reputacional de agora.

Karina Arruda, empresária que vai votar no Lula em ambiente de bolsonaristas
Karina Arruda, empresária de São Paulo que vai votar no Lula, apesar de não se identificar ideologicamente com o PT - Arquivo pessoal

Para Karina, é importante contar com figuras como Lu Alckmin, mulher de Geraldo Alckmim, vice de Lula, que circula bem entre a classe A, para furar a bolha.

"Merece aplausos uma pessoa da elite que se posiciona para nos fazer olhar para além do próprio contexto e dos nossos privilégios."

A empresária faz críticas à "pobreza intelectual da elite brasileira" e lamenta que metade de sua família vote em Bolsonaro. "Fato que gera debates acalorados e enraivecidos. Isso acaba nos afastando de pessoas que amamos, mas também nos faz vê-las em sua totalidade."

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