Reinaldo Figueiredo

Humorista e cartunista, um dos criadores do Casseta & Planeta. É autor de “A Arte de Zoar”.

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Reinaldo Figueiredo

Os marqueteiros de Thelonious Monk

Enquanto 2018 não acaba, relembramos mais um lance de 1968

Como 2018 ainda não acabou, dá tempo de pegar carona na onda de comemorações dos 50 anos de 1968, “o ano que não terminou”. Tudo já foi dito, ou quase tudo. Vale a pena lembrar aqui um episódio jazzístico de 68, o lançamento do LP “Underground”, do pianista Thelonious Monk. 

Naquela época, as vendas dos discos de jazz estavam caindo e o rock estava bombando. A gravadora Columbia resolveu investir numa estratégia de marketing para atrair o público mais jovem para a música de Thelonious Monk. 

Para fazer a capa do LP, que pretendia refletir o clima de rebeldia da época, a direção de arte da gravadora contratou uma dupla de fotógrafos fodões, Steve Horn e Norman Griner, especializados em fotos complexas e superproduzidas.

No estúdio deles foi montado um cenário reproduzindo um esconderijo da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Na cena aparecem, entre muitos elementos e adereços, uma vaca, um prisioneiro nazista amarrado numa cadeira, uma glamourosa guerrilheira, armas de fogo,  dinamite, granadas, detonadores, garrafas de vinho e um piano. 

Ilustração
Reinaldo Figueiredo/Folhapress

Richard Mantel, um dos diretores de arte, disse que Monk chegou ao estúdio vestindo a roupa que aparece na foto, mas sem aquela metralhadora pendurada no ombro, é claro. A vaca ainda estava na sala de espera do estúdio. Monk se aproximou, passou o braço em volta do pescoço do animal e sussurrou no seu ouvido: “Muuuuu!”. 

Depois, sentou-se no piano, que estava completamente desafinado, e ficou tocando durante uma hora e meia, enquanto rolava a sessão de fotos. Quando acabou a função, Monk foi embora. Durante esse tempo todo, a única pessoa a quem o lacônico músico dirigiu a palavra foi a vaca.

A foto ficou uma beleza e o disco até ganhou o Grammy de melhor capa, mas a estratégia de marketing não deu certo. O disco não foi bem nas vendas.

Mesmo com a metralhadora, o álbum não atingiu o público-alvo. Os marqueteiros fizeram o possível, mas naquele tempo ainda não existia o Photoshop.

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