Depois desse período ultraestressado, eu pretendia fazer a última coluna do ano num tom mais ameno.

Minha intenção era falar de um dos bons lançamentos jazzísticos de 2018, o álbum do pianista Brad Mehldau chamado “Seymour Reads the Constitution!”. 

O disco é muito bom, com um trio completado por Larry Grenadier no contrabaixo e Jeff Ballard na bateria, e tem um detalhe interessante: a faixa-título foi motivada por um sonho, no qual o pianista via o ator Philip Seymour Hoffman lendo a Constituição dos EUA, com uma música soando ao fundo. Quando acordou, Brad Mehldau anotou a melodia, para não esquecer, e mais tarde, completou a composição.

Passei a noite ouvindo o disco e depois fui dormir. Aí, meus problemas começaram. Sonhei que o futuro presidente tinha pedido ao Alexandre Frota para fazer uma leitura da Constituição Brasileira. No meu sonho, aparece o ator lendo o artigo 19, aquele que diz assim: 

“É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança [...]”. 

Mas, no meu sonho, a trilha sonora da narração era um hino evangélico cantado por Magno Malta.

Voltando ao disco, acho que mesmo os que não são adeptos da ideologia jazzista vão gostar deste álbum.

Sugiro que ouçam o disco começando pela faixa 7, que é uma composição de Paul McCartney chamada “Great Day”. 

E dou uma dica ao chefe do cerimonial: use essa faixa como música-tema no dia da posse. Afinal, será um grande dia.