Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Reinaldo Azevedo
Descrição de chapéu Auxílio Brasil

Deltan, Lira e Bolsonaro são as estrelas do nosso 'freak show' cotidiano

E se o presidente de fato combinou com Jim Carrey uma versão verde-amarela de 'Dumb & Dumber', traduzido por aqui como 'Debi & Loide'?

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Deltan Dallagnol, que me processa —por enquanto, está perdendo, vamos ver—, anunciou que vai deixar o Ministério Público Federal. Quer uma vaga na Câmara.

O bom rapaz do iê-iê-iê da destruição do Estado de Direito e do devido processo legal diz nas redes sociais: "Minha vontade é fazer mais, fazer melhor e fazer diferente". Parece realmente um serviço diferenciado... Como num rock antigo, seria ele a "solução do seu problema?".

Que coisa! Eu, um jurista com aspas, como o buliçoso rapaz me definiu em diálogos revelados pela Vaza Jato, afirmei de cara, ainda em 2014, que sua atuação parecia mais comprometida com a política do que com a lei.

Alô, Lenio Streck, jurista sem aspas! É evidente que estávamos certos, não? Mas o que busca Deltan? Parece estar de olho na imunidade parlamentar. Não poderá mais ser alcançado pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Uma vez na Câmara, abre-se uma larga avenida para seu tipo de militância.

A pretensão é antiga, também revelada pela Vaza Jato. O rapaz estava de olho no Senado, mas há uma única vaga por estado na disputa do ano que vem, e o lavajatismo não pretende tirar o pirulito da boca de Álvaro Dias, a principal referência do Podemos, o partido que serve de barriga de aluguel a Dom Giovanni Moro —que voltou a visitar os nativos— e, tudo indica, também a Deltan, seu Leporello "das faces rosadas", como foi definido em um perfil laudatório.

Vai acima um corte do "freak show" cotidiano que experimentamos. Estaríamos num reality? E se Jair Bolsonaro não errou, só deixou escapar, ao afirmar que teve um colóquio com o ator e humorista Jim Carrey? Talvez não tenha querido mesmo dizer John Kerry e acertado uma versão nativa de "The Truman Show", com a ligeira diferença de que, por aqui, sobrará pouco espaço para a inocência e para o lirismo. Em muitos aspectos, o mundo nos espia, com nossos exotismos.

Sempre há a possibilidade de uma versão verde-amarela de "Dumb & Dumber", traduzido entre nós como "Debi & Loide - Dois Idiotas em Apuros". Dois?

Enquanto Bolsonaro elevava o vexame nacional a altitudes inéditas em sua passagem pela Itália, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, articulava um pacote espantoso de manobras para tentar aprovar a PEC do precatórios. Olhemos de perto também esse desatino.

É impressionante que se dê quase de barato que o expediente, que frauda as regras do jogo, traga consigo o que se aponta como "solução" para ampliar benefícios e beneficiários do Bolsa Família, bolzonarizado como "Auxílio Brasil". Ocorre que o calote dos precatórios e a mudança do índice para corrigir os gastos garantem quase metade dos recursos só até dezembro de 2022, ano eleitoral.

Não se trata apenas de calote, pedalada e fura-teto. Estamos diante de uma manipulação eleitoreira desavergonhada de um programa que, jamais tendo sido de distribuição efetiva de renda, serviu ao menos para minorar os extremos da miséria.

O presidente se apropria da marca do seu principal adversário político e a transforma num instrumento para caçar votos. Sim, o PT fez exploração politiqueira do programa no passado. E não houve vez em que eu não o tivesse apontado com muita dureza.

Desta feita, busca-se comprar o voto dos pobres com um bônus que tem prazo definido. E, sabemos, os miseráveis precisam desse dinheiro, sim, porque experimentam a "recuperação em V" de Paulo Guedes revirando caminhão de ossos. A extensão do auxílio emergencial também furaria o teto. Mas não abriria a possibilidade de aumentar o naco das "emendas do relator" —sistema inédito de compra votos de parlamentares.

O PDT prometeu reagir à patranha, mas capitulou. Ciro Gomes resolveu dar um tempo na sua candidatura. O PSDB aderiu quase em massa, depois de resistir ao texto. O PSB deu lá seus votos, embora em menor proporção. "Ah, Reinaldo, queria o quê? O caos?" Nego-me a pensar que só tenhamos como alternativas a sem-vergonhice ou a desordem.

Sabem por que já há parte da elite espichando os olhos para Lula? Nostalgia de estabilidade. Mas fica para outras colunas.

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