Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Lula não precisa nem falar para vencer; os adversários falam por ele

Em vez de ser uma alternativa à mal chamada polarização, Moro amarra o nem-nem a uma agenda de extrema direita

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O ex-presidente Lula segue como franco favorito na disputa presidencial do ano que vem, mesmo falando o mínimo possível. Nem precisa.

A logolatria de alguns de seus potenciais adversários, candidatos a autocratas, conspira a seu favor. E há o espetáculo do crescimento de delírios do paraíso, em meio a caminhões de ossos, de Paulo Guedes.

Na mais recente pesquisa Genial-Quaest, o petista seria eleito no primeiro turno nos quatro cenários testados. Tem, de muito longe, o melhor saldo na conta intenção de voto/rejeição.

Nada disso despertou a atenção do "centrão dos opinadores", formado pelo batalhão que está convencido de que a salvação vem da fórmula "nem Lula nem Bolsonaro".

Até pode vir. Mas cumpre indagar: não sendo nem uma coisa nem outra, então é o quê? Esse "centrão" preferiu destacar, na referida pesquisa, uma suposta "consolidação" de Sergio Moro como alternativa da terceira via. Pode até acontecer.

Os números autorizam a torcida, mas não a conclusão. Eu sempre torço para o Corinthians. Mesmo quando sei que vai perder. Torcer dispensa placar.

Quando Lula fala, seu discurso é submetido a um escrutínio milimétrico. Qualquer suspeita de piscadela para Daniel Ortega, por exemplo, e esse "centrão" de que trato logo se solidariza com os democratas da Nicarágua e sugere que o ex-presidente gostaria de implementar um regime sandinista no Brasil, embora o PT tenha deixado pacificamente o poder e tente voltar por meio de eleições.

Nota: talvez não tenha ocorrido na eleição passada em razão de uma condenação sem provas, decidida por um juiz incompetente e parcial. Sigamos.

A propósito: também repudio a ditadura de Ortega, mas não estendo o tapete para um ex-juiz que propõe a criação de um tribunal de exceção no Brasil, que seria formado com a interferência de organismos multilaterais.

Moro fala abertamente sobre o assunto a entrevistadores servis, que nem se encarregam de lembrar ao doutor que 1) qualquer coisa dessa natureza teria de ser aprovada pelo Congresso; 2) ainda que aprovada fosse, seria inconstitucional.

Para tentar demonstrar a correção de sua atuação quando magistrado, o pré-candidato do Podemos apela ao assentimento do TRF-4 e do STJ à sentença que condenou Lula, mas chama de "erro judiciário" decisões do STF de que discorda.

Em julgamentos distintos, o tribunal anulou as condenações do petista e declarou a suspeição do então juiz.

No Conversa com Bial, Moro deixou entrever que caminhos percorreria se fosse presidente da República. Ao contestar o Supremo, afirmou: "O que existe, muitas vezes, é um apego excessivo a formalismo e tecnicismo e acaba confrontando o sentimento de justiça das pessoas".

O direito nada mais é do que a formalização "do sentimento de justiça das pessoas". Sem ela, ficamos entregues ao arbítrio dos poderosos ou ao justiçamento das maiorias da hora.

Se as regras do jogo são tratadas como "tecnicismo", a pretensão punitiva do Estado, ou das hordas, se torna um imperativo. Tem-se a morte do direito de defesa. E, creiam!, há quem se diga "liberal e morista" a um só tempo. É mesmo?

Como há os sedizentes "liberais e bolsonaristas". Nesta quinta, o presidente expressou o cerne do seu entendimento de uma política pública de saúde. Participava de um evento oficial.

Depois de desferir palavrões contra João Doria e de retomar os ataques ao Supremo, com especial atenção a Alexandre de Moraes, deixou claro por que é contrário à exigência do passaporte da vacina para a entrada de estrangeiros no país: ele próprio, lembrou aos berros, não se vacinou.

Lula não é um candidato a autocrata. Bolsonaro não pensa em outra coisa. Embora não realize seu intento, empurra o país para o buraco. Moro, versado em autocracia distinta, mas combinada, é só a segunda via do bolsonarismo, na correta síntese do jornalista Guilherme Macalossi.

Em vez de ser uma alternativa ao que chamam "polarização" — expressão que não acato —, o ex-juiz amarra o "nem-nem" a uma agenda que também é de extrema direita.

Em lugar de Lula, eu também ficaria calado o máximo possível. Deixaria que os adversários e o povo falassem. Como vêm falando.

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