Reinaldo José Lopes

Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".

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Descrição de chapéu Coronavírus

Em crianças, vírus da Covid-19 se multiplica muito, mas reação do organismo é eficiente

Os pequenos também precisam de vacinas, apontam autores de estudo brasileiro sobre Covid em crianças

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Falsas esperanças costumam ser muito piores do que o medo, como estes anos de pandemia têm demonstrado. As ilusões de segurança ou menor risco ("ah, essa doença só pega em país de clima frio"; "ah, é só um resfriadinho") foram caindo por terra, uma a uma. Só um alento se manteve até agora: o risco muito menor de uma manifestação grave da Covid-19 em crianças. Uma pesquisa brasileira deu alguns passos importantes para entender o porquê disso —e para mostrar que os pequenos não podem continuar de fora do esforço global de vacinação.

Eis a primeira mensagem crucial do trabalho, confirmando o que outros estudos já tinham mostrado: não há motivo para achar que a probabilidade de pegar e transmitir o vírus Sars-CoV-2 seja menor nessa faixa etária.

"As crianças se infectam e têm altos títulos virais [grosso modo, o número de cópias do vírus circulando no organismo], provavelmente contribuindo para a transmissão, mesmo quando não têm sintomas", afirma a imunologista Cristina Bonorino, pesquisadora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e coautora do novo estudo.

Bonorino, ao lado de colegas de outras instituições no Brasil e nos EUA, acaba de publicar os resultados na revista especializada Nature Communications. A equipe analisou as reações do sistema de defesa do organismo de 24 crianças atendidas em dois hospitais da capital gaúcha.

Criança tapa os olhos com o braço enquanto um profissional de saúde aplica a vacina contra Covid
Criança recebe dose de Coronavac em Santiago, no Chile, que já liberou imunizante para crianças entre 6. e 11 anos - Ivan Alvarado/Reuters

Esse grupo foi comparado a dois outros, formados por 34 e 33 adultos que tinham versões leves e severas da doença, respectivamente. Todas as pessoas incluídas no estudo tinham passado pelo exame de PCR, que detecta a presença do material genético do coronavírus no organismo.

A comparação mostrou, para começo de conversa, a presença abundante dos genes do vírus no corpo dos pacientes pediátricos. Em geral, paradoxalmente, as reações mais fortes do sistema de defesa do organismo aparecem nos adultos com doença grave. Mas o organismo das crianças também costuma reagir fortemente à presença do Sars-CoV-2. A questão é que esse contra-ataque parece ser feito de forma diferente do que se vê nos adultos.

Uma das explicações para isso pode ser o chamado sistema imune inato —defesas que, como o nome sugere, vêm "de fábrica" no organismo humano, sem depender do contato prévio com o vírus. As crianças parecem carregar uma população maior das chamadas células dendríticas, incluindo uma subpopulação delas que é crucial para a defesa antiviral.

Além disso, os anticorpos que as crianças infectadas produzem com mais frequência servem para bloquear moléculas da estrutura do vírus, e não a famigerada proteína S, que ele usa para invadir as células humanas.

O interessante é que as vacinas disponíveis hoje miram apenas a proteína S. Talvez seja o caso de pensar em vacinas que estimulem a reação a outras moléculas do vírus também. Seja como for, "nosso artigo mostra a importância de vacinar as crianças, porque elas transmitem a doença", diz Bonorino.

"E as que tiveram Covid respondem robustamente ao vírus. Portanto, a vacina vai trazer a proteção de que precisam —uma proteção deve se somar à outra."

Nunca é demais lembrar que não existe estratégia de vacinação bem-sucedida quando se pensa apenas em nível individual. Por definição, o escudo trazido pelas vacinas é coletivo. Quanto mais gente incluída debaixo desse guarda-chuva no Brasil e no mundo, mais razões haverá para termos esperança.

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