Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu Copa do Mundo Feminina

Mulheres no comando do futebol feminino

É especialmente importante que 2 mulheres liderem os finalistas da Copa

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Na segunda semifinal da Copa do Mundo feminina, me peguei torcendo para a Holanda no estádio em Lyon. Já tinha uma simpatia grande pela seleção campeã da Eurocopa em 2017, que está levando uma massa laranja por todo o estádio que passa nesse Mundial, mas a gota d'água foi quando me dei conta de que, se a Holanda se classificasse, teríamos uma coisa quase inédita acontecendo na final: a presença de duas mulheres no comando dos times que disputariam o título. Isso só aconteceu uma vez na história da Copa feminina, lá em 2003, 16 anos atrás.

Sarina Wiegman, técnica da Holanda, orienta Desiree van Lunteren durante semifinal contra Suécia. - Bernadett Szabo/Reutes

Agora, em 2019, elas ainda eram minoria como treinadoras --no início do torneio na França, eram 9 seleções comandadas por mulheres em 24 participantes. Nas quartas de final, já viraram maioria (5 de 8). E agora, na decisão, serão absolutas, com Jill Ellis nos EUA e Sarina Wiegman na Holanda. O título mundial de 2019 ficará no currículo de uma mulher.

​Pode parecer uma besteira --e eu sinceramente espero que isso um dia se torne tão comum que não precise mais ser destacado. Afinal, deveria ser "normal" ter mulheres no comando de um time de futebol de mulheres. Aliás, deveria ser mais regra e menos exceção encontrar mulheres em postos de comando, ponto. Mas não é.

Jill Ellis, técnica dos Estados, celebra vitória com a goleira Alyssa Naeher na semifinal contra Inglaterra. - Philippe Desmazes/AFP

Se no mercado de trabalho em geral já é raro encontrar a presença feminina em cargos de liderança --segundo pesquisa divulgada em 2018 pelo IBGE, elas ocupam apenas 37,8% dos cargos gerenciais do país--, no futebol há uma barreira ainda maior. Se até na Copa feminina elas representam menos de 38% dos treinadores, dá para se ter uma ideia do quanto essa é uma posição ainda restrita aos homens, até mesmo no futebol feminino. 

E não é que eu seja adepta daquela lógica ultrapassada de que "mulheres trabalham com o futebol feminino, homens trabalham com o futebol masculino". Mas é que, da mesma forma como no futebol deles existem os ex-jogadores que viram técnicos e conseguem ocupar esses postos de comando, seria óbvio pensar que o mesmo pudesse acontecer no futebol delas e que mais ex-jogadoras conseguissem oportunidades para atuar como técnicas. Não é isso que vemos acontecer.

No Brasil, por exemplo, terra de um celeiro de craques no futebol feminino, apenas uma mulher teve a oportunidade de atuar como treinadora na seleção brasileira --foi Emily Lima, que ficou apenas 10 meses no cargo e não teve a chance de disputar nenhuma competição oficial.

​​Sissi é treinadora há mais de uma década de categorias de base nos Estados Unidos e não esconde: "Eu não tenho dúvidas de que se eu tivesse ficado no Brasil, eu não estaria mais trabalhando com o futebol".

Por tudo isso, é tão importante o fato de que a decisão desta Copa do Mundo, neste momento de auge do futebol feminino que vivemos, tenha duas treinadoras finalistas. Quando perguntei a Sarina Wiegman na coletiva de imprensa sobre o que isso representava para as mulheres, ela foi categórica.

"Acho muito bom que duas mulheres treinem os finalistas, provando que podem ocupar postos de comando, que podem ter coragem para ousar, tomar decisões difíceis. É muito bom ver mais mulheres envolvidas em posições de poder. Mas as mulheres também precisam ter coragem e arriscar estar nessas posições", disse.

Para as meninas de todos os cantos do mundo que ligarão a TV para assistir à final desta Copa do Mundo, ver mulheres dentro de campo jogando e na beirada do gramado comandando pode fazer toda a diferença. Mostra que elas também podem chegar lá, para jogar ou para liderar. O recado deste Mundial está mais claro do que nunca: o futebol também é lugar delas.

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