Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Pia é o nome certo para uma seleção que busca identidade

CBF, que prometeu revolução no futebol feminino, precisa deixar a sueca trabalhar

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Pia Sundhage foi apresentada nesta semana na CBF e, ao sair do auditório, foi inevitável pensar: a primeira pessoa estrangeira a comandar uma seleção brasileira de futebol em quase 100 anos não poderia ser outra. A última última vez que isso aconteceu foi entre 1923 e 1925, quando o uruguaio Ramón Platero foi treinador do time masculino

Vou tentar contar aqui por quê tinha que ser Pia.

Quando era criança na Suécia, na década de 1960, não era comum ver meninas jogando futebol. A paixão de Pia era justamente o esporte. Ela passava todas as tardes jogando bola na rua com os meninos. Até que um dia o técnico do time do bairro perguntou se a garota queria jogar “futebol de verdade”, em um campeonato. Era tudo o que ela poderia desejar - só que, para isso, seria preciso trocar de nome. Meninas não poderiam jogar aquele torneio, e foi aí que Pia virou “Pele”, inspirada no craque brasileiro.

A técnica sueca Pia Sundhage durante sua apresentação na CBF. - Ricardo Moraes/Reuters

Mas a identificação dela - que brilhou nos gramados da Suécia e depois virou uma das treinadoras mais vitoriosas do mundo - com o Brasil não vem simplesmente pelo apelido da infância. Sua paixão pelo futebol é tão grande que transborda. Ao pisar o gramado da Granja Comary no centro de treinamento da seleção brasileira, não conteve a emoção. Chorou ao bater um pênalti imaginário. “Tantas coisas já aconteceram na minha vida desde que comecei a jogar futebol. E agora estou aqui, no país do futebol”, disse.

“A bola abre portas”, como Pia costuma dizer.

Foi a bola que a levou a ser bicampeã olímpica a milhares de quilômetros de casa, nos EUA, comandando “o melhor time do mundo”. A bola já a tinha levado antes para a China, onde fez sua estreia como assistente técnica no Mundial de 2007.

E agora a bola a trouxe para comandar a seleção da maior jogadora de todos os tempos. Se Pia já se inspirou em Pelé, o rei do futebol, na infância, agora terá a chance de inspirar a rainha Marta em uma Olimpíada.

“Viajei o mundo todo, mas nunca vi isso antes. Foi difícil segurar as lágrimas, vocês têm algo muito especial e muito mágico. Todo mundo respira futebol”.

As palavras da treinadora em sua apresentação na CBF mostram mais uma semelhança entre ela e sua nova “casa”. Pia é uma apaixonada pelo futebol, respira isso desde criança e é fácil ver em seus olhos essa obsessão.

Não há dúvidas de que seja o nome certo para uma seleção que busca identidade, reconhecimento e que precisa se reinventar após o fim de uma era com Formiga, Marta e Cristiane.

Aliás, todas elas estavam em campo há 8 anos naquele momento que Pia descreve como o “melhor de toda a sua vida no futebol”. Foi nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2011, quando o Brasil vencia os Estados Unidos por 2 a 1 na prorrogação e só restavam os acréscimos para confirmar o resultado.

Foi quando Rapinoe acertou o cruzamento que Pia tanto treinou com ela, e Abby Wambach fez o que já estava acostumada: gol. O empate levou o jogo para os pênaltis e talvez para a eliminação mais dolorosa que a seleção brasileira feminina já viveu. 

Quem sabe sua experiência e pioneirismo na seleção feminina agora possa fazê-la colecionar outros “melhores momentos” na carreira. A CBF escolheu a pessoa certa para quebrar sua barreira contra técnicos estrangeiros e agora só precisa cumprir a promessa de “revolução no futebol feminino” feita pelo presidente Rogério Caboclo na apresentação da sueca.

A receita para isso é simples: é só deixar Pia trabalhar.

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