Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

A revolução do futebol delas

Demorou, mas está acontecendo. O futebol feminino chegou pra ficar

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O cenário era o Parque São Jorge. O estádio estava lotado e com uma fila imensa de torcedores tentando entrar. Final do Campeonato Brasileiro feminino, a imprensa inteira no campo para cobrir Corinthians x Ferroviária. Ouvi de uma colega, companheira de coberturas: "É impressionante este ano. Está acontecendo uma revolução."

Me peguei pensando nisso e menciono aqui alguns fatos que ajudam a compreender a dimensão do que estamos vivendo. 

A seleção brasileira de futebol dos homens existe desde 1914. Já a seleção brasileira das mulheres foi formada pela primeira vez mais de 70 anos depois, em 1988, para disputar a Copa do Mundo experimental, na China.

Jogadoras de Corinthians e Ferroviária duelaram diante de bom público - Danilo Verpa - 29.set.19/Folhapress

O Campeonato Brasileiro dos homens existe desde 1971. Antes disso, outros torneios nacionais masculinos foram disputados, como Taça Brasil, criada em 1959. O Brasileiro das mulheres foi criado em 2013. O que existia até então eram torneios curtos que aconteciam por uma ou duas semanas na mesma cidade.

No Brasileiro masculino, nunca houve uma edição que não tenha sido transmitida no rádio ou na TV. No feminino, foram pelo menos seis anos sem transmissão (apenas com alguns jogos sendo esporadicamente exibidos) e sem qualquer visibilidade. 

Cobri as últimas três finais de Brasileiro feminino e a deste ano foi a primeira que precisou ter coletiva de imprensa após um jogo pela presença numerosa da mídia no Parque São Jorge. Foi o primeiro campeonato que teve quase 60% dos jogos transmitidos, seja pela TV (Band) ou pelas redes sociais (Twitter), somando quase 13 milhões de pessoas alcançadas.

Saindo do campo e indo para a praia, a seleção brasileira de futebol de areia dos homens foi criada em 1992, e coleciona títulos mundiais desde então. Passaram-se quase três décadas até que, na quinta-feira (26), a primeira seleção feminina de futebol de areia da história fosse montada. Elas disputarão pela primeira vez um torneio internacional vestindo o uniforme do Brasil: os Jogos Mundiais de Praia acontecerão de 11 a 16 de outubro, no Qatar.

Não são só as décadas que separam a história do futebol masculino e do futebol feminino no Brasil (e no mundo). É também muita luta.

A primeira seleção, o primeiro campeonato, as primeiras transmissões, premiações, nada disso veio por benevolência das partes envolvidas. A história do futebol feminino é reflexo do que sempre vimos na sociedade: nada foi "dado" às mulheres, tudo foi conquistado.

"A gente não deveria ter que lutar por direitos, mas a gente sabe que ainda precisa. Isso é uma conquista de todas as mulheres", me disse a Letícia Villar, ala da seleção feminina de futebol de areia, a primeira brasileira a ser indicada ao prêmio de melhor jogadora do mundo na modalidade, enquanto seu próprio país não a reconhecia como atleta. 

A gente não deveria precisar disso, mas também não fugimos à luta. Foi por isso que, mesmo com as quatro décadas de proibição do futebol feminino no Brasil, elas nunca pararam de jogar.
Demorou demais até que houvesse um reconhecimento do futebol feminino, muito mais do que deveria. Mas não tem problema. 

"Vocês estão atrasados, mas nós perdoamos", como bem disse Megan Rapinoe ao receber o prêmio de melhor do mundo da Fifa. Só que agora não vamos parar mais.

O ano de 2019 ficará pra sempre marcado na história do futebol feminino, pela Copa do Mundo e por tudo o que veio depois dela.

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