Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Libertadores à beira do caos

Torneio feminino começa nesta sexta em Quito, cidade tomada por protestos

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A Copa Libertadores da América tem tradição na América do Sul e é uma obsessão dos clubes brasileiros no futebol masculino. Há exatos dez anos, ela surgia também para as mulheres.

O nome do torneio foi importado do masculino e trouxe com ele o status que construiu nas últimas décadas com o futebol deles. Só faltou trazer também o mínimo de respeito às protagonistas do espetáculo. Afinal de contas, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) finge que organiza um campeonato importante para as mulheres, e os clubes aceitam.

A Libertadores surgiu em 2009, com dez equipes disputando o título em duas semanas de jogos na mesma cidade. De lá para cá, só mudou o número de participantes (de 10 para 16), mas permaneceu a essência de uma competição mal organizada, apertada no calendário dos clubes e improvisada pela Conmebol.

Treino da equipe do Corinthians
Treino da equipe do Corinthians - Bruno Teixeira/Ag. Corinthians/Divulgação

Para citar o exemplo mais recente: a Libertadores Feminina de 2019 começa nesta sexta-feira (11). Originalmente, ela tinha data marcada para novembro, mas em julho a Conmebol resolveu mudar o calendário e fazer o torneio acontecer em outubro --avisando aos clubes com a incrível antecedência de menos de três meses.

Isso prejudicou a preparação de Corinthians e Ferroviária, os dois representantes brasileiros no torneio. Aí chega a semana da competição, e Quito, a sede escolhida, vive um caos político.

São dezenas de manifestações acontecendo todos os dias no Equador. A sede do governo foi transferida de Quito para Guayaquil porque o governo teme a chegada de milhares de indígenas à capital em protesto.

O Campeonato Equatoriano (masculino) foi suspenso. E, mesmo diante de toda a instabilidade no local, a Conmebol mantém a realização das partidas da Libertadores feminina.

"A Conmebol está acompanhando a situação da cidade de Quito e está em constante contato com os organizadores. Devemos informar que a Federação Equatoriana de Futebol está comprometida com a segurança do torneio, garantindo assim a integridade das jogadoras, árbitros e espectadores", afirmou a entidade por nota.

A segurança dos espectadores está garantida, mas é difícil entender quais espectadores poderão ver os jogos, dado que há um toque de recolher em vários pontos da cidade começando às 20h (a estreia da Ferroviária, por exemplo, será às 19h30 no horário local nesta sexta).

O Corinthians precisou mudar de hotel na última quarta-feira por questões de segurança. É nesse cenário cheio de instabilidade e incertezas que a Conmebol quer realizar o principal torneio de futebol feminino das Américas.

Fico pensando se o mesmo aconteceria caso a Libertadores em questão fosse a masculina --se bem que, tratando-se de Conmebol, tudo é possível, até mesmo uma final entre River Plate e Boca Juniors em Madri.

E, mais, fico pensando qual é o propósito de se realizar um torneio que já é de improviso (afinal, fazer uma competição que dura 18 dias em uma cidade a 2.800 metros de altitude não pode ser considerado algo profissional) em meio a todo esse caos na cidade-sede.

A verdade é que Libertadores feminina segue colecionando pérolas nesses dez anos de existência. Outras edições já tiveram jogos no breu porque não havia refletor no estádio; falta de ônibus para transportar atletas, intoxicação alimentar em jogadoras... As mulheres merecem mais do que essas migalhas oferecidas pela Conmebol, que parece não levar a sério o torneio que ela própria organiza. 

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