Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Aline Pellegrino é a mulher por trás de um recorde

Ex-jogadora é chave para entender crescimento do futebol feminino em São Paulo

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A diferença entre realizar ou não um sonho pode estar simplesmente em acreditar suficientemente nele.

Ver um estádio do tamanho da Arena Corinthians com as arquibancadas cheias para ver a final do Campeonato Paulista feminino, quebrando o recorde de público do país para o futebol das mulheres foi algo que muita gente sonhou.

Mas talvez ninguém tenha acreditado que isso era possível tanto quanto ela.

Uma mulher negra, ex-jogadora, ex-capitã da seleção brasileira e hoje a melhor gestora que o futebol feminino poderia ter. É ela quem está por trás desse recorde.

Aline Pellegrino em ação em seu tempo de seleção brasileira - Toru Hanai - 3.abr.12/Reuters

Claro que não só ela. Mas Aline Pellegrino é um ponto chave para entender o crescimento do futebol das mulheres no estado de São Paulo.

Desde 2017 trabalhando na Federação Paulista de Futebol, ela é responsável por criar o primeiro campeonato feminino em categorias de base (Paulista sub-17, que está na terceira edição), o primeiro festival sub-14 para meninas e também é diretamente responsável pelo retorno das mulheres aos grandes estádios do país em São Paulo.

Pela primeira vez em 20 anos, elas voltaram a pisar o gramado do Morumbi, desta vez sem fazer preliminar para um jogo do masculino, mas para reinarem sozinhas.

E pela primeira vez, elas colocaram mais de 28 mil pessoas no estádio apenas para torcer pelas mulheres. 

Um espetáculo tão histórico, que ainda teve torcida corintiana aplaudindo as jogadoras são-paulinas e demonstrando que a rivalidade precisa ficar em segundo plano quando estamos falando de jogadoras como Cristiane, que representam muito mais do que as cores da camisa que vestem.

Aline Pellegrino não estava dentro de campo sob holofotes naquele momento, mas se não fosse o trabalho dela fora das quatro linhas, dificilmente teríamos visto um espetáculo tão grandioso.

É claro que tem reflexo do sucesso da Copa do Mundo feminina aí e do trabalho bem feito do Corinthians (sob a supervisão também de uma mulher, Cris Gambaré). Mas a ousadia de Pellegrino ao reunir os clubes e montar a estratégia para a chamada "final Majestosa" quase dois meses antes de ela acontecer, fez toda a diferença.

Ela acreditou, sim, que seria possível trazer a torcida para o Morumbi e para a Arena Corinthians apenas com as mulheres em campo.

E é preciso exaltar a força dessa mulher que enfrentou tantas dificuldades no futebol feminino como atleta —a ausência de estrutura e os baixíssimos salários no Brasil, o racismo ao jogar na Rússia, as inúmeras frases preconceituosas que teve que ouvir ao longo de 30 anos nessa carreira— e, ainda assim não desistiu.

Chegou perto disso quando virou treinadora e não viu mais perspectivas diante de tantas barreiras. Mas futebol é paixão que não se larga tão fácil, e, em 2016, ela recebeu o convite para ser gestora do futebol feminino do Corinthians.

De lá, foi para a FPF e literalmente para o mundo, já que é a representante brasileira nos congressos da Fifa para discutir futebol feminino.

"Tive que ouvir por 30 anos que o futebol feminino não tem graça, não atrai público, não é um bom produto, o jogo é feio, não dá audiência e por aí vai. E estamos desconstruindo isso. São lições que o futebol ainda pode proporcionar", ela diz.

Como faz diferença ter uma mulher que passou por todas as dificuldades do futebol feminino hoje ocupando um posto de comando da modalidade.

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