Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Festejado pela CBF, futebol feminino ainda é tratado com desdém

Jogo da seleção brasileira é desprezado pela própria confederação

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Não é pela roupa chique ou pelo salto alto —afinal, nada como o conforto do calção e da chuteira—, mas pelos holofotes que raramente são direcionados a elas e ali estavam por todos os lados. O glamour do vestido longo e da maquiagem são parte do roteiro da festa de premiação da CBF que desta vez teve as mulheres também como protagonistas ao lado dos homens.

"Para eles é tão normal uma festa dessas, mas pra gente não", disse a zagueira do Corinthians e da seleção brasileira, Erika. "A gente se prepara para um momento tão especial como esse, porque é muito importante para a modalidade."

Seleção do Campeonato Brasileiro feminino
A seleção do Campeonato Brasileiro feminino - Lucas Figueiredo/CBF

Convidar as mulheres para participar (e não só para assistir) da festa da CBF é algo simples, mas que significa muito para elas. Ver a corintiana Millene dividindo o palco com o rubro-negro Gabigol para receber o prêmio pela artilharia do campeonato (ela do feminino, ele do masculino) juntos é simbólico. No futebol, afinal, artilheiro não tem gênero, tem gols. Aplaudir a lateral Tamires levando o filho Bernardo para celebrar com ela a conquista do troféu do gol mais bonito ao lado de De Arrascaeta é emblemático. Uma cena que mostrou que maternidade, futebol e conquistas podem andar juntos nesses tempos.

No momento de homenagear os melhores técnicos, Tatiele Silveira, da Ferroviária, recebeu o prêmio das mãos da bicampeã olímpica Pia Sundhage, enquanto Jorge Jesus, do Flamengo, recebeu do pentacampeão mundial Zagallo. Todas as gerações ali reunidas para mostrar que, para comandar um time, não precisa ser homem, nem mulher, precisa ser competente.

A premiação nesse formato trouxe visibilidade para o futebol feminino e, principalmente, passou um recado importante: o de que, no futebol, homens e mulheres têm o mesmo valor. Ou deveriam ter —e aqui não estamos falando de cifras, estamos falando de exposição, de valorização.

Só que nem tudo é festa. Quer dizer, no fundo, até poderia ser neste fim de ano para fechar uma temporada tão histórica para o futebol feminino. Mas a própria CBF conseguiu estragar o gran finale. Dois amistosos marcados para acontecer no Brasil nos dias 12 e 15 de dezembro em São Paulo e em Araraquara, respectivamente, tinham tudo para fechar com chave de ouro 2019.

Se o último jogo das mulheres na Arena Corinthians teve quase 30 mil pessoas (a final do Paulista), quem duvidaria que um jogo da seleção brasileira não poderia ter ainda um público ainda maior? Oras, o próprio dirigente da CBF.

Ao ser questionado por uma torcedora quando começaria a venda dos ingressos, já que faltavam pouco mais de 48 horas para o jogo e nada havia sido informado sobre as entradas, ele disse: "não vai lotar e teremos lugares para todas".

Não tem como lotar um jogo em que a CBF sequer disponibilizou a carga máxima (ou qualquer coisa próxima disso) para a partida. E não dá para conseguir um bom público quando a própria organizadora do jogo mal divulgou o amistoso e apenas disponibilizou ingressos para a torcida com menos de dois dias para a partida acontecer.

Tudo isso leva ao questionamento: qual valor tem a seleção feminina para a CBF? Será que a seleção masculina passaria por uma situação dessas? Afinal de contas, quem liga se o jogo delas tem um público baixo? Se quem comanda não se importa em lotar estádio para o futebol feminino, é preciso mudar de comando. 

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