Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

Vamos jogar de igual para igual em 2020?

Está na hora de avançarmos na conversa sobre as oportunidades

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Muito se brincou, ao final de 2019, com essa expressão que marcou a campanha do Flamengo no Mundial de Clubes, após perder o título para o Liverpool por 1 a 0 na prorrogação. O time brasileiro jogou de igual para igual com o campeão europeu, disseram. Resolvi aproveitar a brincadeira para propor uma reflexão nestes primeiros dias de 2020.

Esse seria um bom ano para a gente se orgulhar de jogar de igual para igual também fora do campo. Esqueçam os chutes a gol, a posse de bola, as defesas difíceis. Estou falando aqui de oportunidades iguais para homens e mulheres no esporte que a gente tanto ama.

Há décadas, as mulheres lutam pelo direito de simplesmente participar do jogo. Já ouvimos que futebol é coisa para homem e que lugar de mulher é na cozinha. Teve gente que disse até que o corpo da mulher não era adequado ao esporte. Médico que disse que ela correria risco de perder o útero se participasse de jogo tão violento. Sem perceber que violência muito maior é viver as escolhas que os outros fizeram para você, sem o poder de determinar seu destino.

Chegamos ao século 21 superando tudo isso. Mas não dá para negar que o jogo ainda está muito desigual para elas. Um levantamento do UOL realizado em 2017 com atletas de 16 times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro feminino mostrou que 3 em cada 4 jogadoras ganhavam R$ 1,8 mil por mês. Ou seja: a maioria das jogadoras que atua na elite do futebol por aqui ganhavam valor correspondente a dois salários mínimos na época.

Hoje,  o cenário está um pouco melhor para as que atuam nos clubes de camisa, equipes consolidadas no futebol masculino. Ainda predominam, porém, as condições muito precárias para as mulheres que apostam no futebol como carreira. Clubes que oferecem pouca estrutura —até mesmo o São Paulo coloca as atletas do time profissional para treinar em campo sintético e dividir a academia com os associados do clube—, os contratos são de no máximo um ano de duração e poucos times garantem uma carteira assinada para as jogadoras (nem mesmo o Corinthians oferecia isso até 2019).

No jornalismo esportivo, mulheres ainda representam uma média de 13% das redações de TV, segundo levantamento do UOL. Quando olhamos para os cargos de chefia, é ainda mais difícil de encontrá-las. Em quase 10 anos trabalhando na área, nunca tive uma editora de esportes —eram sempre editores.

E no que é publicado na mídia esportiva, a diferença é ainda maior. De janeiro a fevereiro de 2019, por exemplo, 97% das notícias nos principais veículos esportivos do Brasil foram sobre atletas homens. O dado é de um levantamento de Alejandro Daniel Gil-Delgado Martínez sobre inteligência de mercado, realizado na Escola de Negócios Saint Paul.

É só olhar os números para perceber que não estamos jogando de igual para igual —aliás, longe disso. E o foco aqui não é falar das cifras que separam um negócio do outro, porque é óbvio que o futebol masculino, por ser muito mais antigo (existe há mais de 100 anos) e por ser o esporte mais popular do mundo, é mais lucrativo do que o futebol feminino.

Está na hora de avançarmos na conversa sobre as oportunidades. Quantas meninas são incentivadas a jogar futebol? Todos os meninos são. Quantas redações contratam mulheres para opinar sobre futebol?

Todas já contrataram homens. Quantos veículos se propõem a cobrir esportes femininos? Todos dão espaço aos masculinos. Já é 2020 e já deu tempo de entender essa não é uma disputa para ter vencedor. O único objetivo aqui é poder jogar de igual para igual.

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