Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça
Descrição de chapéu Futebol Feminino

Coronavírus evidencia disparidade entre jogadores e jogadoras

Diferenças nas realidades do futebol feminino e masculino choca

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Boa parte dos brasileiros precisou mudar sua rotina por causa da pandemia do coronavírus, que já atingiu centenas de pessoas por aí e fez suas primeiras vítimas. Claro que cada um faz sua parte como pode —ou como deixam, já que há muitas empresas e patrões que não permitiram o home office. É na hora que um vírus assim toma conta que as disparidades sociais e econômicas se escancaram.

As principais recomendações de prevenção à Covid-19 não são aplicáveis à boa parte da população que mora em comunidades ou lugares sem saneamento básico: lavar as mãos, usar álcool em gel e ficar em casa é privilégio de poucos no contexto brasileiro.

O esporte, em especial o futebol, também reserva suas diferenças marcantes em tempos de pandemia. Com quase todos os campeonatos suspensos e clubes sem atividades por tempo indeterminado, restou aos jogadores e jogadoras se adaptarem a uma nova rotina dentro de casa. E aí cada um acaba tendo que se virar como pode.

Pato, jogador de futebol do São Paulo, treina em casa por causa do coronavírus
Pato, jogador de futebol do São Paulo, treina em casa por causa do coronavírus - Reprodução/Instagram

Alexandre Pato, atacante do São Paulo, artilheiro do time em 2020. Nas suas primeiras postagens nas redes sociais nessa nova realidade, o jogador aparece correndo na esteira na sala de casa, com uma piscina ao fundo. Glaucia Santiago, atacante do São Paulo, artilheira em 2019 e 2020. No seu Instagram, ela aparece nos stories fazendo agachamento com uma barra na varanda e um treino de corrida e resistência na ladeira de sua casa.

Glaucia, jogadora de futebol do São Paulo, treina em casa por causa do coronavírus
Glaucia, jogadora de futebol do São Paulo, treina em casa por causa do coronavírus - Reprodução/Instagram

A realidade financeira do futebol feminino não é comparável à do futebol masculino hoje. Um surgiu há mais de cem anos, o outro lutou contra uma proibição por décadas. São contextos completamente distintos, de um negócio que já se estabeleceu no mercado e outro que busca seu espaço. Mesmo assim, a disparidade existente entre dois craques do mesmo time ainda choca.

Glaucia conta que, ao saber da suspensão das atividades no clube, buscou equipar sua casa para ter condições de manter alguma rotina de exercícios: "Fui comprar algumas coisas para não utilizar a academia, porque é preciso evitar ao máximo o contato com as pessoas. Gastei R$ 800 em aparelho, a barra, os pesinhos, um investimento para o que dá para fazer. E as meninas que não têm condição de comprar? Fica bem difícil”.

Uma das atletas mais bem pagas do time feminino do São Paulo, Glaucia sabe que a maioria das jogadoras do país não têm as mesmas possibilidades que ela na hora de fazer esse investimento para manter a forma. E que a realidade do futebol masculino é ainda mais fora da curva. “Mas a gente faz o que pode. Não é porque está dentro de casa que você vai ficar relaxada. Até conversei com uma jogadora para ela ficar aqui e treinar comigo, porque onde ela mora não tem como treinar”, conta.

É assim que a atacante mantém a rotina: acorda no mesmo horário de antes, faz “musculação” adaptada na varanda, depois o treino aeróbico na ladeira (enquanto ainda pode sair) e se resguarda em casa. Para quem queria chegar à seleção brasileira e ainda sonha com a chance de disputar uma Olimpíada, obviamente é um desafio manter o preparo dessa maneira.

“Eu tenho tendência de engordar rápido, então isso atrapalha a gente. Mas quero muito chegar à seleção e por isso estou mantendo foco aqui. E é para ficar em casa mesmo, o que está acontecendo é grave, a gente tem que se cuidar."

Disparidades à parte, o discurso de “foco, força e fé” nunca foi tão realista para os atletas.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.