Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça

Ingenuidade da CBF e dirigentes irresponsáveis deixam jogadoras sem receber

Clubes estão usando dinheiro destinado ao futebol feminino para outros fins

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Já diria Paulinho da Viola: “dinheiro na mão é vendaval”. Infelizmente, essa é uma realidade comum ao futebol brasileiro. Não é de hoje que clubes sofrem com gestões irresponsáveis, que acumulam dívidas e afundam instituições. Mas se isso já é “comum” em equipes grandes, que arrecadam milhões por ano, imagina o que pode acontecer quando times menores recebem quantias consideráveis de mão beijada?

A intenção da CBF ao enviar dinheiro aos clubes menores para ajudá-los a se manter na crise foi ótima. Equipes das séries C e D do futebol masculino e das séries A1 e A2 do futebol feminino estavam com muitas dificuldades para se manter em meio a tantas perdas na pandemia, e o chamado “auxílio emergencial” era mais do que necessário.

Lance da final do Campeonato Brasileiro Feminino Série A-2, entre São Paulo e Cruzeiro
Lance da final do Campeonato Brasileiro Feminino Série A-2, entre São Paulo e Cruzeiro - Lucas Figueiredo/CBF

O problema foi contar com a boa vontade e honestidade dos gestores dos clubes ao liberar esse dinheiro sem exigir uma comprovação de que ele seria gasto para manter os salários das atletas.

Na nota oficial divulgada no site da CBF, a entidade explica que o objetivo da ajuda é “colaborar para que esses clubes possam cumprir seus compromissos com os jogadores e jogadoras durante o período de paralisação do futebol”.

Mas no recibo que os gestores das equipes assinaram havia apenas o valor transferido “referente ao apoio financeiro emergencial e excepcional concedido em razão da pandemia Covid-19”. Alguns se valeram disso para usar o dinheiro para outros fins, negando às jogadoras salários de R$ 500.

São pelo menos 5 clubes dos 52 (somando séries A1 e A2 do Brasileiro feminino) que não repassaram nada do valor recebido para as atletas.

O Audax havia dispensado sua equipe feminina alegando “não ter recebido orientação da CBF” sobre como esse dinheiro deveria ser gasto. Os dirigentes do time voltaram atrás quando a denúncia veio à tona e após muita insistência do coordenador de competições de futebol feminino da CBF, Romeu Castro.

É ele quem tem ligado pessoalmente para as equipes para garantir que o dinheiro chegue às atletas. Sem um mecanismo de fiscalização da CBF, faz-se necessário um trabalho individualizado, clube a clube, na tentativa de convencer dirigentes do óbvio: honrar seus compromissos com as atletas usando o dinheiro que lhes foi dado com esse intuito.

Há casos em que os clubes terceirizaram o futebol feminino, mas, na hora de receber o dinheiro da CBF, quiseram, obviamente, “assumir” a modalidade.

Foi o que aconteceu no Auto Esporte, da Paraíba, e no Santos Dumont, do Sergipe. Ou seja, as jogadoras ficaram sem receber, e a verba foi parar nas mãos de quem nem sequer cuida do futebol feminino.

E há situações ainda mais alarmantes, como as de Sport e Vitória, dois clubes tradicionais do país, que cortaram investimentos nas equipes femininas recentemente e mantiveram times “por obrigação”.

Eles receberam a verba para o futebol feminino —R$ 50 mil para o Sport (série A2) e R$ 120 mil para o Vitória (A1)— e não repassaram um real para as atletas. Muitas ali não recebiam nada para jogar, ou apenas uma ajuda de custo com transporte e alimentação. Mas nem isso tem sido pago.

Não estamos falando de salários astronômicos atrasados ou de direitos de imagens milionários não pagos. Estamos falando de jogadoras que nem sequer contrato assinado têm, reflexo da precariedade da profissão, e que muitas vezes são fonte de sustento de suas famílias. A elas, está sendo negado o básico, míseros R$ 500, um centésimo da ajuda mínima que os clubes receberam da CBF. A sem-vergonhice deveria ter limite.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.