Na proximidade do Dia das Mães, é natural que Tamires, a única jogadora da seleção brasileira que tem filho, seja muito procurada para pautas sobre maternidade no esporte.
Há uma curiosidade muito grande das pessoas sobre “como é ser mãe e jogar futebol?”. Tão grande que essa é a pergunta que Tamires ouve sempre, de janeiro a janeiro, em todas as entrevistas que dá. Como jogadora do Corinthians, ela costuma responder mais sobre maternidade do que sobre sua profissão.
Como é ser mãe e jogar futebol? A melhor resposta para essa pergunta seria: não é. Porque maternidade no esporte ainda é um tabu muito grande e uma raridade.
Segundo um levantamento da FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol) de 2017, só 2% das 3.600 jogadoras profissionais de todos os continentes são mães. Na última Copa do Mundo, elas representavam menos de 1% das 552 jogadoras.
Claro que não é fácil para uma atleta ser mãe durante sua carreira esportiva —o corpo, que passará por todas as modificações de uma gestação, é o instrumento de trabalho delas, e sempre é um desafio voltar ao alto rendimento depois de tantas mudanças com uma gravidez. Só que o maior empecilho nem é esse.
O problema é conseguir um clube que mantenha o contrato de uma jogadora durante a gravidez para que ela possa parar por uns meses e voltar com o emprego assegurado (em outras profissões, a licença-maternidade é garantida na legislação trabalhista).
Por isso, o que costuma acontecer é que uma jogadora tem sempre que escolher: a carreira ou a maternidade. A mesma pesquisa da FifPro mostra que 47,4% das jogadoras consideram se aposentar mais cedo para formar uma família. No caso de Tamires, a gravidez não foi planejada e quase acarretou o fim de sua carreira. Foram dois anos afastada até conseguir voltar para brilhar em campo novamente.
Mas tem outra coisa sobre essa pergunta. Ela nunca é feita a um jogador. “Como é ser pai e jogar futebol?”. “Você sente falta do seu filho quando está na seleção?”. Boa parte dos jogadores da seleção já tem filhos. Mas nenhum deles nunca teve de responder a essas questões.
“O pai também sente saudade do filho. Mas é aquela coisa que já se criou: se o pai está jogando futebol, o filho está com a mãe. No meu caso, se eu estou jogando futebol, eu não vou deixar o Bernardo ao deus-dará, então com certeza ele está bem cuidado. Isso é uma coisa que as pessoas já deveriam ter consciência”, disse Tamires.
A gente precisa parar de “estranhar” que mulheres tenham vida além da maternidade. E definitivamente precisamos parar de cobrá-las por uma onipresença na vida dos filhos. Ninguém se incomoda com um pai que está sempre viajando para jogar bola.
Ninguém pergunta: quem fica com seu filho enquanto você joga? Parece óbvio e natural que ele fique com a mãe. Então por que, quando estamos falando de uma jogadora, não é óbvio e natural que a criança fique com o pai enquanto ela exerce sua profissão?
“O Bernardo já está quase virando jogador e as pessoas continuam falando dessa questão”, brincou a jogadora. “Eu queria ser vista como a Tamires atleta.”
Já foi-se o tempo em que mulheres eram criadas apenas para a maternidade. Hoje, elas podem ser mães (e podem não ser também), executivas, gestoras, empreendedoras e podem até, pasmem, ser jogadoras de futebol.
O melhor presente para as mães no domingo (e em todos os dias do ano) é começarmos a cobrar dos pais a mesma responsabilidade que exigimos delas com os filhos.
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