Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

Copa de 2019 começou a virar o jogo para as mulheres no futebol

Audiência do torneio mostrou que brasileiro se interessa pelo futebol feminino

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A Copa do Mundo tem uma importância peculiar na vida do brasileiro. Ousaria dizer que qualquer um de nós poderia contar sua trajetória de vida pelas Copas que viveu.

Todo mundo sabe onde estava e com quem em cada um dos Mundiais dos quais se lembra desde o nascimento. São como flashes de quatro em quatro anos na nossa cabeça até virarem histórias inteiras, intensas, que não nos cansamos de viver e de esperar se repetirem a cada quadriênio.

No caso da Copa das mulheres, me arrisco a afirmar que todo brasileiro terá o mesmo ponto de partida —salvo raras exceções. Não porque outros Mundiais não tenham sido marcantes, muito pelo contrário. Tivemos em 2007 nosso melhor resultado (um vice) conquistado por aquela que talvez tenha sido a melhor seleção brasileira feminina de todos os tempos. Só que infelizmente essa história foi muito pouco contada —na época e até hoje.

Então foi em 2019, há um ano, que todo brasileiro teve a chance de conhecer e reconhecer as mulheres do Brasil em campo numa Copa, um torneio que ficará pra sempre marcado como aquele que “virou o jogo” para o futebol feminino.

Antes de tudo começar, na estreia desta coluna na Folha, já era fácil prever que o Mundial da França seria histórico. Mas inicialmente muita gente duvidou. Quando desembarquei em Portugal para cobrir a preparação da seleção feminina como representante das Dibradoras, fomos o primeiro veículo a chegar lá (e o único por quase uma semana).

Talvez esse seja o sonho de qualquer jornalista esportivo: ser o único representante da imprensa a cobrir a seleção na preparação para uma Copa do Mundo. O meu sonho é que a gente possa ver centenas de jornalistas se apertando para conseguir uma aspa que seja da Marta e que o braço chegue a doer do tanto de manobra que terá de fazer para se esticar e encaixar mais um microfone para ouvir as mulheres da seleção.

Pode parecer masoquista, mas é que o meu desconforto será só um detalhe. O que realmente importa é que o futebol feminino seja visto e admirado como sempre mereceu. Depois da Copa da França, estou certa de que o que vivi na cobertura pré-torneio não vai se repetir. E por um motivo ótimo. Porque o interesse na seleção feminina cresceu, e no próximo Mundial os maiores veículos estarão cobrindo de perto todos os passos delas antes, durante e depois do torneio.

Em 2019, a Copa do Mundo das mulheres chegou a muito mais gente por ser transmitida pela TV Globo, a maior emissora do país. Teve quem achasse que era a primeira vez que a Fifa realizava o torneio —afinal, era a primeira vez que as pessoas ficavam sabendo que ele existia.

O impacto foi enorme: esse foi o assunto mais comentado nas redes sociais em dias de jogos do Brasil, as buscas sobre futebol feminino se multiplicaram exponencialmente no Google e a audiência de dezenas de milhões de brasileiros na TV comprovou o que ninguém nunca acreditou: parece que as pessoas querem, sim, ver mulheres jogando futebol.

Thaisa (à dir.) comemora o gol do Brasil nas oitavas de final contra a França
Thaisa (à dir.) comemora o gol do Brasil nas oitavas de final contra a França - Loic Venance-23;jun.19/AFP

É claro que tem uma coisa que sempre tentará nos jogar para trás. O preconceito com as mulheres ocupando um espaço que sempre foi considerado masculino é tão forte que ainda tem gente que não cansa de repetir: “ninguém liga para futebol feminino”.

Ninguém. Nem os 35 milhões de brasileiros que viram Brasil e França nas oitavas de final. Nem os 19,9 milhões que viram a final da Copa sem a seleção em campo. É tanta gente que não liga para futebol feminino que dá até para bater recorde mundial de audiência. Imagina se alguém ligasse.

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