Faltando nove rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro (dez para alguns, 11 para outros), ainda não dá para cravar quem será o campeão da temporada mais atípica da história do torneio. Mas o que dizem por aí é que, diante dos últimos resultados, parece que ninguém quer o título.
Claro, o “ninguém quer ganhar o Brasileiro” não é uma expressão para ser levada ao pé da letra. É óbvio que o título ainda é muito cobiçado. Só que, nos últimos cinco jogos, todo mundo do G6 tropeçou (exceto o Internacional, que venceu todos).
Isso levou a uma discussão antiga sobre o nível do Campeonato Brasileiro. Houve quem dissesse que esses resultados são a prova do “baixo nível” do nosso futebol. E o que mais se repetiu nos debates (da TV ou da mesa do almoço) foi um clichê que costuma aparecer quando nos deparamos com o equilíbrio na tabela: “ninguém quer ganhar o Campeonato Brasileiro”. Será?
É engraçado que, no início da temporada, costumamos nos orgulhar ao dizer que o Brasileiro é um dos campeonatos mais equilibrados do mundo. Mas quando a reta final ainda mostra isso, questionamos.
Ouvi também que esta temporada não tem nenhum time que encante, que destoe, como fez o Flamengo em 2019. Vale lembrar que essa é nossa lembrança mais recente, mas também nossa referência mais fora da curva. O time teve a maior pontuação da história dos pontos corridos, teve o melhor saldo de gols desse período, bateu recorde de vitórias, foi campeão com quatro rodadas de antecedência...tudo isso o fez a exceção, não a regra.
É só olhar para as últimas cinco edições do Brasileiro. Em 2018, o Palmeiras não destoou, mas foi eficiente. Em 2017, o Corinthians disparou no primeiro turno, mas oscilou no segundo. O Palmeiras de 2016 não foi brilhante, mas foi competitivo, regular.
Nenhum desses times encantou. Assim como nenhum encanta em 2020/21. Só que este torneio não pode ser analisado com a mesma régua que os demais. No aspecto físico, técnico, tático e até emocional, a atual temporada é a mais diferente de todas.
Como poderíamos esperar qualquer time voando em campo num campeonato que acontece em meio a uma pandemia que já levou mais de 200 mil vidas –algumas delas, inclusive, de amigos e familiares dos jogadores que entram em campo toda semana?
Como seria possível falar do nível do campeonato depois que os times passaram quatro meses parados, algo que nunca havia acontecido na história recente do futebol? E em que medida podemos avaliar os efeitos dos surtos de Covid-19 nos atletas em campo, quando eles retornam do isolamento?
O calendário brasileiro sempre foi uma aberração, por não permitir aos times tempo para treinar, mas o de 2020/21 é ainda pior. Não abrimos mão de nenhum jogo, e há times que jogaram duas vezes na semana desde julho até dezembro sem parar.
Os jogos sem torcida têm um claro efeito no desempenho dos times em campo. O barulho na arquibancada, quando existe, ganha jogos.
E entrar em campo no auge do verão brasileiro numa reta final de campeonato também é novidade para nós. O calor forte pode ter efeitos no rendimento físico e técnico dos jogadores. No último domingo, o jovem meio-campista Romildo, do Botafogo, chegou a vomitar depois de ter jogado o primeiro tempo do clássico contra o Vasco em São Januário.
Tudo isso ajuda a explicar por que os times estão oscilando mais do que o normal na reta final da temporada. Por essas circunstâncias, esse talvez seja o Brasileiro mais difícil de ganhar. E podem apostar, todo mundo quer.
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