Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2020

Times que mais trocaram de técnico no Brasileiro foram rebaixados

Dirigentes contratam sem a convicção do que querem e do que o treinador pode oferecer

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Neste momento, os quatro times da zona de rebaixamento da Série A (dois deles já estão confirmados na Série B) têm algo em comum: foram as equipes que mais trocaram de técnico ao longo das 36 rodadas do Campeonato Brasileiro.

O Vasco, atual 17º colocado, teve três técnicos nesse período: Ramon Menezes, Ricardo Sá Pinto e Vanderlei Luxemburgo. O Goiás, 18º, teve quatro: Ney Franco, Thiago Larghi, Enderson Moreira e agora a dupla Glauber Ramos e Augusto César. O Coritiba, que confirmou a queda nesta rodada, também teve quatro: Eduardo Barroca, Jorginho, Rodrigo Santana e Gustavo Morínigo. E o Botafogo, o primeiro a ser rebaixado, terminará o campeonato com seu quinto técnico, o então auxiliar permanente Lúcio Flávio. Paulo Autuori, Bruno Lazaroni, Ramón Díaz e Eduardo Barroca foram os anteriores.

Homem vestido de preto cabisbaixo, com a mão na cabeça
Técnico Eduardo Barroca estava no comando no jogo em que o Botafogo foi rebaixado - Nayra Halm - 5.fev.21/Fotoarena/Folhapress

Ao ver os jogos dessas quatro equipes, é até difícil descrever as características delas. O Vasco, por exemplo, foi um time eficiente no início, criando poucas oportunidades, mas sendo bastante efetivo nelas —e seguro na defesa. Foram muitas mudanças de comando, de esquema, de titulares, e hoje o time segue sendo um dos que menos finalizam no campeonato, agora com uma defesa frágil (tomou sete gols nos últimos quatro jogos e não fez nenhum).

O Goiás fez contratações equivocadas —que nem sequer foram renovadas no fim do ano, quando terminaram os contratos de mais de dez jogadores— e encerra a temporada com uma reação impressionante, sob o comando dos treinadores da base que aproveitaram alguns jovens mesclando com a experiência dos que ficaram.

O Coxa começou 2020 querendo implementar estilo ofensivo de jogo, então não renovou com Jorginho (que subiu com o time para a Série A) e contratou Barroca. Após quatro derrotas nas primeiras rodadas do Brasileiro, ele foi demitido. O substituto? Jorginho.

Nessa mudança de estilos, o clube esqueceu duas coisas básicas: a primeira é que é preciso tempo para se implementar uma forma de jogar. A segunda é que é necessário ter jogadores com características para o estilo que se quer implementar (ou o processo levará mais tempo).

Sem saber o que queriam exatamente ao contratarem tantos treinadores, os dirigentes do Coritiba levaram o clube ao seu sexto rebaixamento.

Homem gesticula na beira do gramado
Gustavo Morínigo chegou ao Coritiba com o rebaixamento do clube quase consumado - Rodolfo Buhrer - 31.jan.21/Reuters

No Botafogo, que sofre graves problemas financeiros, foram feitas 25 contratações na temporada e até hoje é difícil nomear o time titular. O estilo que mais deu certo foi o implementado por Autuori no início (seguido por Lazaroni, que ficou apenas seis jogos), apostando na velocidade do contra-ataque pelos lados —mas o time perdeu Luiz Henrique, seu principal talento com essa característica, e também Luiz Fernando. Resultado: mudou de técnico, mudaram os jogadores, mas pouco se produziu em campo.

O futebol brasileiro não respeita processos. Dirigentes contratam técnicos sem a convicção do que querem e do que o treinador pode oferecer. Em poucos jogos, decretam o fim do trabalho, sem admitirem as próprias falhas.

Nos últimos tempos, vimos clubes fazerem "processos seletivos", entrevistarem treinadores. Serão mesmo mais profissionais ou vão mudar de ideia na primeira sequência de derrotas?

Não é coincidência que o futebol mais praticado pelos clubes aqui seja reativo. É exceção ver times ousando mais, sendo propositivos. O imediatismo pelos resultados atropela qualquer evolução dentro de campo.

Dos 20 times da Série A, só 4 não trocaram de técnico no campeonato (Atlético-MG, Grêmio, Ceará e Santos). Pelo bem do jogo, é urgente que se mude essa cultura.

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