Há um ditado que diz: a grama do vizinho é sempre mais verde. No momento em que podemos acompanhar jogos da Copa América e da Eurocopa pela televisão, não restam dúvidas: a grama dos vizinhos (europeus) tem sido sempre mais verde.
E aqui não estou falando de cor, obviamente. Porque no Nilton Santos, por exemplo, a grama estava tão verde que até coloriu os uniformes dos jogadores da seleção brasileira. Era uma estratégia para tapar buracos, literalmente? Fato é que o verde é só um detalhe. O que mostra a qualidade de um gramado é a bola rolando. E coitada da bola nesta Copa América. Está tendo muita dificuldade para cumprir a premissa básica para a qual foi criada: rolar.
Não fui jogadora de futebol, mas me permito esse lugar de fala como espectadora mesmo.
Enquanto isso, os jogos da Euro encantam na televisão. De novo, não é sobre qualidade do jogo em si (também, mas esse é outro tópico), mas sobre condições de jogo. Entre os 11 países que sediaram a competição, não vi nenhum gramado que deixasse a desejar.
O problema da Copa América é da Conmebol, mas não é só dela. Porque, infelizmente, no Brasil é mais comum vermos jogos em campos ruins (ou muito ruins) do que em gramados de qualidade. Dizia-se que isso mudaria com a Copa do Mundo de 2014 –e dá para dizer que mudou, em alguma instância. O gramado da Neo Química Arena em Itaquera é um ótimo exemplo, sempre muito elogiado e, coincidentemente, escolhido pelo Flamengo para mandar o Fla-Flu do domingo na ausência do Maracanã.
Falando em Maracanã, há quanto tempo ouvimos reclamações sobre a falta de cuidado com o gramado do estádio da final da Copa do Mundo? A Arena Castelão, em Fortaleza, também foi palco de jogos do Mundial e atualmente é um dos piores gramados da Série A. Tanto Fortaleza quanto Ceará já demonstraram publicamente o descontentamento.
A impressão é que por aqui nos acostumamos muito facilmente a jogar em campos que “não têm condições de jogo”. O jogo entre Juventude e Flamengo no Alfredo Jaconi pela Série A é um exemplo extremo –com aquela quantidade de água no gramado era impossível praticar futebol profissional.
Às vezes parece que a gente encara o jogo, esse que é um negócio de bilhões ao redor do mundo, como uma brincadeira. “Ah, vai ver o campo da minha pelada.” A diferença é que a sua pelada é só um passatempo. Não é o seu trabalho, é a sua diversão.
A comparação correta seria, por exemplo, com o escritório onde você trabalha. Já imaginou chegar nele e não haver cadeira para sentar? Você pode trabalhar de pé, claro, mas vai ter seu rendimento seriamente afetado. Faz sentido alguém te contratar para trabalhar num escritório e não te fornecer um item básico, ou seja, uma cadeira?
A cadeira está para o escritório assim como o gramado está para o jogo de futebol profissional. Se não há o mínimo (um campo bem cuidado), fica difícil entregar o máximo (um jogo bem jogado).
Isso, obviamente, não impede que jogos sejam ruins em gramados bons. O Corinthians já teve muitas exibições sonolentas no ótimo gramado de Itaquera. Mas, sem o básico, não é justo exigir mais do que o trivial.
Tite fez um novo apelo após as quartas de final da Copa América.
“Por favor, quem tem a responsabilidade, eu peço: encontre um campo melhor. Para o espetáculo.”
A gente não pode normalizar o gramado ruim como se o campo fosse um detalhe no jogo de futebol. Se a gente quer ver bons espetáculos, é preciso que se providenciem as condições básicas para eles acontecerem.
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