Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Olimpíadas mostram que campeões se fazem com controle do corpo, da mente e das redes sociais

Polêmica entre goleira Bárbara e atleta paraolímpica Andrea Pontes serve de exemplo do que não fazer

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Os Jogos Olímpicos não são mais uma disputa de quem é melhor naquilo que se pode medir efetivamente: força, velocidade, técnica. Esses são apenas o resultado da principal competição que todos os atletas travam diariamente: a da mente. Não adianta treinar o físico se não treinar a cabeça. No fim das contas, ela é quem vai ditar o vencedor.

Isso não é novidade, mas nunca ficou tão evidente como nesta edição das Olimpíadas. Quando o principal nome do evento virou desfalque, a primeira coisa que se noticiou foi que ela estaria lesionada. É comum problemas físicos afastarem atletas de combate. Os problemas da mente também costumam mantê-los longe da disputa —e aí, mesmo que fisicamente presentes, fica claro que, na prática, não estão ali.

Quem viu Simone Biles competir na Rio-2016 sabia que aquela que vimos nas apresentações da classificatória deste ano e também da final por equipes não era ela. A maior força dessa que já é aclamada por muitos como a maior ginasta de todos os tempos sempre esteve na cabeça.

Não havia pressão que abalasse Simone Biles. Os erros de execução eram mínimos —quando apareciam. Era tudo tão perfeito que não parecia real.

E não era. No processo de se tornar uma das atletas mais vitoriosas do mundo, Biles foi abusada pelo médico da Confederação Americana de Ginástica Larry Nassar. Ela é, acima de tudo, uma sobrevivente.

“A experiência de ter sua integridade violada enquanto atleta é algo que, por melhor que você seja, em algum momento te engole, e você realmente tem que parar. Ninguém vai tirar o que ela já conquistou, mas o que ela está fazendo aqui é humanizar o esporte de alto rendimento, e isso tem um valor imenso”, disse a ex-nadadora Joanna Maranhão ao SporTV ao comentar a desistência da americana de participar da final do individual geral na ginástica para cuidar de sua saúde mental.

Biles levantou um debate importante. Depois dela, muitos atletas que estão em Tóquio passaram a falar sobre o assunto. Rebeca Andrade agradeceu muito à sua psicóloga após ter conquistado a medalha de prata no individual geral da ginástica e disse ser uma atleta muito mais forte hoje.

A goleira Bárbara, da seleção brasileira, antes de duelo contra o Canadá
A goleira Bárbara, da seleção brasileira, antes de duelo contra o Canadá - Molly Darlington/Reuters

É essa força da mente que constrói um campeão (independentemente da cor da medalha). Mas hoje há um obstáculo a mais para chegar a esse estágio: as redes sociais. Elas conectam o esportista à “torcida”, para o bem e para o mal. Aprender a lidar com as críticas no mundo virtual pode ser mais difícil do que fazer isso na vida real, já que, na internet, as pessoas são muito mais corajosas do que pessoalmente.

A troca de ofensas entre a goleira da seleção feminina de futebol, Bárbara, e a atleta paraolímpica Andrea Pontes serve de exemplo do que não fazer. Vou repetir a citação feita por Joanna Maranhão, quem melhor definiu o episódio entre as duas: “Rede social não é fluxo de pensamento. Você não pode colocar tudo o que pensa, porque ao vivo não faz isso”. É muito provável que essa “conversa” virtual entre Bárbara e Andrea jamais teria acontecido no mesmo tom se ambas estivessem frente a frente.

Como uma das jogadoras mais experientes da seleção em Tóquio, Bárbara não pode se deixar levar por postagens nas redes sociais. Eu só posso imaginar o nível de ataque que ela deve sofrer por lá, mas respondê-los não vai levá-la a absolutamente lugar nenhum. Pelo contrário. Com a visibilidade dada ao futebol feminino neste momento, era óbvio que o assunto repercutiria mal para a seleção brasileira.

Para ser campeão hoje em dia é preciso controlar o corpo, a mente e as redes sociais.

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