Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu Tóquio 2020 vela

Sem o mesmo investimento, mulheres representam quase metade das medalhas do Brasil

É preciso criar estratégias para que meninas tenham as mesmas oportunidades que meninos

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Esta já é a melhor participação feminina do Brasil na história dos Jogos Olímpicos. Antes de Tóquio, a melhor marca das mulheres brasileiras havia sido conquistada em Pequim-2008, quando elas conquistaram sete medalhas ao todo. Hoje, já são nove garantidas, e sete já somadas ao quadro de medalhas (faltam a de Bia Ferreira, no boxe, e a do vôlei feminino, ambas com no mínimo a prata).

Naquela ocasião, em 2008, o Brasil havia conquistado 17 medalhas no total, sendo que a participação feminina representava 41% delas. Na conta atual, ainda antes do encerramento desses Jogos Olímpicos, as mulheres representam 44% das 16 medalhas somadas até aqui.

Se pensarmos só no número de ouros, elas eram 75% das conquistas brasileiras até esta sexta-feira (3 das 4 medalhas conquistadas até então). Agora, representam 42% dos ouros, mas até o final dos Jogos as mulheres podem ser responsáveis por mais da metade das vezes que o hino brasileiro tocou em Tóquio.

E se resgatarmos a participação feminina no quadro de medalhas brasileiro desde aquele “melhor resultado” em Pequim, ela só havia piorado. As mulheres representaram 35% dos pódios do Brasil em Londres-2012 e, pasme, 26% na Rio-2016.

Esses números não refletem o acaso. São o retrato do que se faz com o esporte feminino por aqui.

Historicamente, as mulheres têm menos investimento porque, em teoria, acredita-se que elas trazem menos retorno —só que os esportes femininos não estão na mídia e, portanto, não trazem a mesma audiência que os masculinos. Pesquisas evidenciam que só 4% da cobertura da mídia esportiva é voltada aos esportes femininos. As pessoas não conseguem consumir aquilo que elas não sabem que existe.

É assim que se forma um ciclo vicioso: mulheres recebem menos investimentos no esporte porque não estão na mídia; sem estarem na mídia, os esportes femininos não se popularizam, a prática esportiva segue sendo majoritariamente masculina; sem a massificação da prática esportiva entre meninas, não há o desenvolvimento das modalidades femininas; sem o desenvolvimento, elas não conseguem os melhores resultados; sem os resultados, elas seguem sem receber investimento.

O problema da falta de investimento nos esportes femininos é mundial. Por isso, quem faz o mínimo já consegue o máximo. Um ótimo exemplo são os EUA, sempre nas primeiras posições do quadro de medalhas com resultados puxados pelas mulheres.

Em Londres-2012, elas representaram 63% das medalhas de ouro americanas nos Jogos. Na Rio-2016, dos 45 ouros conquistados pelos EUA, 27 foram por mulheres (60%). Por lá, uma lei aprovada na década de 1970 ajudou a abrir as portas do esporte para as mulheres.

Chamada “Title IX”, essa lei garante igualdade de oportunidades na educação para meninos e meninas. Como o esporte lá está diretamente atrelado à educação, a lei mudou a realidade dos esportes femininos, porque obrigou as universidades a igualarem as bolsas esportivas oferecidas a homens e mulheres. Assim, a prática esportiva que antes era majoritariamente masculina ficou mais igualitária.

Em 1972, quando a lei foi criada, uma em cada 27 meninas praticava esportes nos Estados Unidos. Quase 50 anos depois, uma em cada três pratica. Para quebrar a lógica machista que sempre permeou o esporte, é preciso criar estratégias para que as meninas tenham as mesmas oportunidades que os meninos.

No Brasil, mesmo sem essas iniciativas, as mulheres estão se provando extraordinárias nos Jogos de Tóquio e mostrando o quanto merecem maior atenção da mídia, das confederações e dos patrocinadores.

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