Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Descrição de chapéu Futebol Feminino São Paulo

Clubes optam por arquibancada vazia em jogo com mulheres históricas

São Paulo e Santos, de Formiga e Cristiane, fazem da ausência de público uma opção

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Os clubes optaram por não ter torcida em uma partida de semifinal de campeonato. Está aí uma frase que eu nunca achei que fosse escrever.

Ao longo de quase dois anos de pandemia, o futebol lamentou não poder ter torcida no estádio em momentos históricos, conquistas de títulos, quebras de tabus etc. Aí, quando a evolução da vacinação contra a Covid-19 permite a volta dos torcedores ao estádio, há clubes que OPTAM por arquibancadas vazias. Em jogos que valem vaga na final de um campeonato.

Foi o que aconteceu no Santos x São Paulo pela semifinal do Campeonato Paulista feminino e se repetirá no dia 1º de novembro quando essas duas equipes voltam a se enfrentar na mesma Arena Barueri onde foi o primeiro jogo, que terminou 1 a 0 para as visitantes tricolores –se é que dá para chamar alguém de visitante num contexto de jogo sem torcida e considerando que a volta será no mesmo palco.

Cristiane, do Santos, tenta finalização, marcada por Formiga, do São Paulo, em duelo válido pelas semifinais do Paulista - Pedro Ernesto Guerra Azevedo - 17.out.21/Santos FC

Em campo, estavam ninguém menos que duas das maiores jogadoras da história do futebol mundial. Cristiane vestindo a camisa do Santos, Formiga vestindo a camisa do São Paulo. A primeira até teve a chance de um contato com a torcida antes da pandemia. A segunda retornou à equipe tricolor agora, após 20 anos. Sua primeira e única competição pelo São Paulo nesta temporada é o Campeonato Paulista.

A decisão dos presidentes de ambos os clubes foi em comum acordo. O São Paulo afirmou que busca “preservar a integridade das atletas neste momento em que o público liberado nos estádios está em fase de testes e é muito recente”.

O Santos pontuou a questão dos custos: “Ficou acordado que as duas partidas não terão público por questões de custo operacional, sobretudo devido às ações decorrentes do protocolo estabelecido pela pandemia”.

Obviamente, há um custo relevante para se abrir um estádio de futebol ao público nas condições atuais, com os protocolos necessários para a Covid-19. Interessante notar que, no âmbito do futebol masculino, Santos e São Paulo não cogitaram manter os portões fechados, mesmo nessas circunstâncias. Ainda que, com apenas 30% ou até mesmo 50% da capacidade liberada pelas autoridades, o prejuízo nesses jogos seja quase certo.

O Santos teve o apoio importantíssimo do seu torcedor na partida contra o Grêmio e contabilizou R$ 70 mil de prejuízo. O São Paulo até teve lucro na partida contra o Santos, que marcou o retorno da torcida, mas cobrando o ingresso num valor muito mais alto do que seus rivais (o valor médio pago pelos tricolores foi R$ 71).

Dá para entender a preocupação com o custo operacional do estádio. Mas o São Paulo e o Santos têm apenas dois (no máximo) jogos neste ano com o futebol feminino para ter esse custo. Inclusive podem ter apenas um (para quem for eliminado na semifinal). A única oportunidade de a torcida ter contato com dois dos maiores nomes da história do futebol. Uma chance de engajar a torcida com o futebol feminino, criar nos seus torcedores a cultura de acompanhar os jogos delas também. Mais uma oportunidade desperdiçada.

Atletas do São Paulo celebram, sem torcida, o gol da vitória - Gabriela Montesano/saopaulofc.net

Do outro lado, Corinthians e Ferroviária optaram por abrir os portões. A Ferrinha, que é muito mais forte no feminino do que no masculino, colocou os ingressos a R$ 5 e R$ 10. O Corinthians ainda não definiu onde vai mandar o jogo da volta, mas já comunicou que a torcida poderá comparecer. E deverá comparecer em peso, diga-se. O maior público da história recente do futebol feminino no Brasil entre clubes veio do Corinthians na final de 2019, com quase 30 mil pessoas na Neo Química Arena.

Não adianta querer retorno se não está disposto a investir para que ele venha. Repetindo um ditado famoso, o único lugar em que sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

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